Existem múltiplos fatores que parecem estar na
origem das perturbações de ansiedade em crianças e adolescentes, envolvendo uma
complexa relação entre fatores biológicos, ambientais e individuais. Os fatores
genéticos e o temperamento são fatores de predisposição que aumentam a
vulnerabilidade. O papel dos fatores ambientais assenta nos fatores familiares,
nas experiências de vida e
aprendizagens, bem como em fatores cognitivos.
Sempre
que ouvimos o termo “ansiedade generalizada”, ele nos causa uma preocupação
constante e duradoura. Mas é preciso saber que a maioria das crianças, mesmo
tendo preocupações no seu cotidiano, lidam bem com essa situação. Percebem que
algo não está bem, mas não ficam aborrecidas com isso, principalmente, enquanto
brincam com seus amiguinhos.
No
entanto, há um grupo de crianças que ficam nervosas, preocupadas, tristes,
desanimadas, pensativas e parecem desatentas. Muitas deixam de se alimentar
como antes, dormem mal e brincam menos. E aí não dá para que os pais ignorem
estes sintomas.
Assim
como nos adultos com ansiedade generalizada, as crianças veem o nascer de um
novo dia como uma nova batalha, assustadora e terrível, que deve ser
enfrentada.
Nas
crianças com ansiedade generalizada as preocupações são bem diferentes das
preocupações dos adultos:
1-
ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO
As
crianças brigam entre si. Às vezes, reatam a amizade e outras vezes, não.
Portanto, elas sabem o que ocorre quando os pais, em casa, brigam ou discutem
acima do tom. E quando isto acontece corriqueiramente ela deduz o que pode
acontecer.
a)
A criança teme a “separação” dos pais.
Dependendo
da idade e do desenvolvimento da criança e do grau de ansiedade que ela
desenvolveu, pode se preocupar mais ou menos com o fato em questão.
b)
A criança teme “perder” um dos pais ou pessoa próxima a ela.
Ao
saber que uma pessoa (pais, avós, tios) a quem a criança ansiosa tem uma
afinidade muito grande e essa pessoa comenta ou passa por uma situação de saúde
e como não consegue avaliar a gravidade da situação, pode sentir e se preocupar
com a “perda definitiva” dessa pessoa. Isto é muito comum porque sabemos que
fatos reais ou imaginários intervém na ansiedade podendo agravá-la ou não.
c)
A criança teme ficar distante do seu adulto de referência.
Toda
criança tem uma pessoa em que ela se espelha como modelo para seu comportamento
(pais, avós, tios, pessoa amiga ou professor etc). Para crianças ansiosas ficar
distante dessas pessoas significa “perder o chão” pois ela fica sem saber como
agir. Ficam nervosas e com medo, conjecturam na imaginação mil justificativas e
sempre se culpa por algo que possivelmente teria feito para que essa separação
acontecesse.
As
separações ou falecimento de pessoas próximas, imaginárias ou reais, sempre
causam prejuízos para as crianças de um modo geral e, mais ainda para as
ansiosas, seja nas atividades comuns do dia a dia e para o seu desenvolvimento.
2-
MUTISMO SELETIVO
Este
é um fenômeno ainda pouco estudado no Brasil, mas que faz com que a criança
fique muito ansiosa, inibida e sem conseguir pronunciar uma só palavra (fica
muda) num ambiente em que, normalmente, deveria se sentir confortável e segura.
Um exemplo desse ambiente é a escola.
Gente,
é diferente da criança que vai a um lugar (casa de um parente, por exemplo) que
ela nunca tinha ido ou visto antes. É natural que fique por um tempo, acanhada,
se esfregando ou se escondendo nas pessoas que conhece. Mas basta um agrado, a
chegada de uma outra criança ou um adulto que desperte nela alguma simpatia
para toda aquela inibição se desfaça.
É
interessante como esse mutismo ocorre. A criança sai de casa falando
normalmente. Porém, a medida em que se aproxima da escola vai se fechando, se
calando até emudecer de vez. Já trabalhei durante um ano e meio com um garoto a
quem isto acontecia. Foi um trabalho difícil, pois como defesa, usava da
agressividade, o que fez com que os demais alunos revidassem também. Mas era
uma criança inteligente e aprendia com facilidade. Quando foi para o Fundamental II, os
professores não o aguentaram e, mais uma vez, foi expulso da escola.
Por
que isso acontece? Ainda não se sabe ao certo. Como já disse, faltam estudos
mais aprofundados. Mas pode envolver contextos e/ou circunstâncias que fazem
essas crianças agirem dessa maneira.
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