domingo, 31 de maio de 2020

Conversa de adulto (14. 5) AS CRIANÇAS E A ANSIEDADE GENERALIZADA


Existem múltiplos fatores que parecem estar na origem das perturbações de ansiedade em crianças e adolescentes, envolvendo uma complexa relação entre fatores biológicos, ambientais e individuais. Os fatores genéticos e o temperamento são fatores de predisposição que aumentam a vulnerabilidade. O papel dos fatores ambientais assenta nos fatores familiares, nas experiências de vida e aprendizagens, bem como em fatores cognitivos.


Sempre que ouvimos o termo “ansiedade generalizada”, ele nos causa uma preocupação constante e duradoura. Mas é preciso saber que a maioria das crianças, mesmo tendo preocupações no seu cotidiano, lidam bem com essa situação. Percebem que algo não está bem, mas não ficam aborrecidas com isso, principalmente, enquanto brincam com seus amiguinhos.

No entanto, há um grupo de crianças que ficam nervosas, preocupadas, tristes, desanimadas, pensativas e parecem desatentas. Muitas deixam de se alimentar como antes, dormem mal e brincam menos. E aí não dá para que os pais ignorem estes sintomas.

Assim como nos adultos com ansiedade generalizada, as crianças veem o nascer de um novo dia como uma nova batalha, assustadora e terrível, que deve ser enfrentada.
Nas crianças com ansiedade generalizada as preocupações são bem diferentes das preocupações dos adultos:

1- ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO



As crianças brigam entre si. Às vezes, reatam a amizade e outras vezes, não. Portanto, elas sabem o que ocorre quando os pais, em casa, brigam ou discutem acima do tom. E quando isto acontece corriqueiramente ela deduz o que pode acontecer.

a) A criança teme a “separação” dos pais.

Dependendo da idade e do desenvolvimento da criança e do grau de ansiedade que ela desenvolveu, pode se preocupar mais ou menos com o fato em questão.

b) A criança teme “perder” um dos pais ou pessoa próxima a ela. 

Ao saber que uma pessoa (pais, avós, tios) a quem a criança ansiosa tem uma afinidade muito grande e essa pessoa comenta ou passa por uma situação de saúde e como não consegue avaliar a gravidade da situação, pode sentir e se preocupar com a “perda definitiva” dessa pessoa. Isto é muito comum porque sabemos que fatos reais ou imaginários intervém na ansiedade podendo agravá-la ou não.

c) A criança teme ficar distante do seu adulto de referência. 

Toda criança tem uma pessoa em que ela se espelha como modelo para seu comportamento (pais, avós, tios, pessoa amiga ou professor etc). Para crianças ansiosas ficar distante dessas pessoas significa “perder o chão” pois ela fica sem saber como agir. Ficam nervosas e com medo, conjecturam na imaginação mil justificativas e sempre se culpa por algo que possivelmente teria feito para que essa separação acontecesse.

As separações ou falecimento de pessoas próximas, imaginárias ou reais, sempre causam prejuízos para as crianças de um modo geral e, mais ainda para as ansiosas, seja nas atividades comuns do dia a dia e para o seu desenvolvimento.

2- MUTISMO SELETIVO


 

Este é um fenômeno ainda pouco estudado no Brasil, mas que faz com que a criança fique muito ansiosa, inibida e sem conseguir pronunciar uma só palavra (fica muda) num ambiente em que, normalmente, deveria se sentir confortável e segura. Um exemplo desse ambiente é a escola.

Gente, é diferente da criança que vai a um lugar (casa de um parente, por exemplo) que ela nunca tinha ido ou visto antes. É natural que fique por um tempo, acanhada, se esfregando ou se escondendo nas pessoas que conhece. Mas basta um agrado, a chegada de uma outra criança ou um adulto que desperte nela alguma simpatia para toda aquela inibição se desfaça.

É interessante como esse mutismo ocorre. A criança sai de casa falando normalmente. Porém, a medida em que se aproxima da escola vai se fechando, se calando até emudecer de vez. Já trabalhei durante um ano e meio com um garoto a quem isto acontecia. Foi um trabalho difícil, pois como defesa, usava da agressividade, o que fez com que os demais alunos revidassem também. Mas era uma criança inteligente e aprendia com facilidade.  Quando foi para o Fundamental II, os professores não o aguentaram e, mais uma vez, foi expulso da escola.

Por que isso acontece? Ainda não se sabe ao certo. Como já disse, faltam estudos mais aprofundados. Mas pode envolver contextos e/ou circunstâncias que fazem essas crianças agirem dessa maneira.

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