domingo, 24 de dezembro de 2017

É TEMPO DE REFLETIR: A CRIANÇA DEVE ACREDITAR OU NÃO EM PAPAI NOEL?

Fantasiar faz parte do mundo infantil. É por meio das fantasias que as crianças pequenas se desenvolvem, compreendem o mundo à sua volta e resolvem suas questões internas.

Para os adultos, as brincadeiras infantis são meros passatempos. Estudos científicos comprovam que a atividade de brincar é coisa séria para elas. Mesmo se divertindo, elas recriam o mundo real da forma como o entendem. Os personagens que criam ou repetem (sendo os dos desenhos que assiste ou dos contos de fadas) são importantíssimos não só para a educação dela como para a criação de valores morais, sociais e do que virá a ser a personalidade delas quando os pais sabem aproveitá-los.

Vivenciar o mundo fantástico é algo natural e a interferência dos adultos nesse quesito pode ajudar ou atrapalhar o bom desenvolvimento da criança. Brincar de faz-de-conta é bom porque além de eliminar muitos medos e trabalhar suas emoções tornam as crianças mais criativas e inventivas na solução de seus próprios problemas, de problemas criados por outros ou pela vida.

Muitos pais preferem educá-las na realidade com receio de que tenham uma visão distorcida da vida. No entanto, viver apenas a realidade é algo terrível para elas. Geram mais medos e não aprendem a lidar com suas emoções. Educadas dessa forma tornam-se pessoas duras e amargas, medrosas, ansiosas e incertas sobre tudo o que se relaciona ao futuro.

Há que se prever também nessa questão a grande influência da mídia em todas as suas formas. O interesse comercial com relação a determinados personagens é grande e geram uma série de estratégias de marketing onde os personagens dos desenhos ou dos contos de fada estão presentes em diversos produtos como roupas, brinquedos, fantasias, materiais escolares durante o ano todo. E, em especial, na Páscoa (os ovos de chocolate) e no Natal (na figura do Papai Noel).

E que mal há em que as crianças acreditem na figura do “bom velhinho”?

parte 1

parte 2

Papai Noel é uma história lendária e secular, que desenvolve nas crianças a generosidade, o compartilhar, o amor e o respeito aos outros (principalmente aos menos favorecidos pela sorte), a compaixão entre outras tantas coisas boas que ele traz. Quanto a ser explorado pela mídia, sua figura equivale a exploração de tantos outros personagens que aderimos e incentivamos sem questionar. Por que impedimos que essa figura se instale como fantasia?
Já vi e continuo vendo muitas crianças acreditarem que são príncipes, princesas, super-heróis. Mas nunca vi nenhuma criança acreditar e querer ser o Papai Noel, nem agir como ele.

Mesmo impedindo a criança vivenciar o “espírito do Natal” e “curtir o Papai Noel”, as famílias lotam as lojas e se engalfinham para conseguir os presentes para elas. Por que será?

Estudos também revelam toda fantasia tem um tempo de duração na vida das crianças. E a realidade se instalará na época adequada e correta para cada criança e sem traumas. Mas depende de como o adulto encara as fantasias infantis.

Há ainda quem não comemore o Natal, justificando que a data do nascimento de Cristo não é essa e que o dia 25 de dezembro é apenas uma convenção. Por que então comemoram os aniversários de cada membro da família com bolos, festas (algumas luxuosas) e presentes? Só por que há um documento escrito e uma data?

Há 2017 anos atrás, ninguém se preocupava com isso. Nasciam e pronto. Apenas de tempos em tempos, o povo era chamado para contagem (senso) da população. E para que este senso fosse realizado, as pessoas tinham que se deslocar da localidade onde viviam para a localidade onde haviam nascido. E for falta desses documento escrito e dia registrado num papel estabeleceu-se essa data (que poderia ser outro dia qualquer do nosso calendário) para comemorar o nascimento de Jesus. É uma convenção? Sim, é. E daí? O importante não é lembrar, de ser generoso e preocupado com os demais?

Aos pais preocupados com estas questões há algumas coisas a fazer:

1-Refletir com as crianças sobre a moral das histórias que assiste ou ouvem e tirar delas o melhor de cada uma, servindo de aprendizado para a vida. 

2- Deixar que a criança fantasie e serem o que quiserem somente enquanto brincam. Nada de levar essa fantasia para a casa dos avós ou em outros lugares como na escola (a menos que seja permitido), nas igrejas, clubes e outros passeios. 

3- Os limites entre as brincadeiras e tarefas que as crianças precisam cumprir devem ser colocados pelos pais e respeitados pelas crianças.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

ENTENDENDO O QUE OCORRE NA PARALISIA CEREBRAL

Este é o nosso cérebro visto de fora. Ele é comum a todos nós.


Agora, num corte vertical, partindo-o ao meio, para que podemos verificar como ele é por dentro.



Agora nos fixaremos nesta imagem muito mais interna do cérebro que a anterior. 




Aproximando mais a imagem, repare nesses fios vermelhos. Eles partem de todas as partes do cérebro. soa fios nervosos e que vão formar a medula (um cordão formado por esses fios todos juntos). A medula fica muito bem protegida pelos ossos da coluna vertebral.
Voltemos aos fios vermelhos. Esses fios são chamados de ramificações motoras e  são os responsáveis por levar informações sobre os movimentos que queremos realizar. Por outro lado, também recebem as ordens do cérebro e as enviam aos músculos para que estes, puxem os ossos. É essa ação de puxar e soltar que os músculos fazem em conjunto com os ossos, que chamamos de "movimento".

Repare agora como eles se unem rapidamente. E como eles descem separados.  Eles seguem assim em direção ao cerebelo. Este órgão primeiro analisa as informações, verifica as condições dos músculos e envia ao cérebro o seu parecer sobre a possibilidade ou não do movimento ser realizado. 
Você deve estar se perguntando por que esses fios se uniram e e se separaram novamente, não é? lembre-se que fizemos um corte e a figura mostra apenas uma parte. Essa parte que não vemos corresponde ao lado direito do cérebro e esses fios chegam das duas partes dele. Nesse ponto de união existe uma espécie de torção que faz com que os fios que vem do lado direito passem para para o lado esquerdo e os do lado esquerdo passem para o direito. Isto porque os fios do lado direito comandam os movimentos do lado esquerdo do corpo e vice-versa.


Agora localize na figura acima, o cerebelo e o bulbo, Compare-os com com o tamanho do cérebro. São pequenos, não é mesmo? Esses órgãos ficam localizados na região acima do pescoço e que costumamos chamar de "nuca".


Se esses fios ou ramificações motoras continuassem torcidos causariam grande estrago tanto no cerebelo quanto no bulbo. Separados não tem problema porque são bem finos e podem atravessar os dois órgãos.


Vamos caminhar mais um pouco na nossa imagem. E veja como entram no cerebelo e no bulbo. 



Penetram de cima para baixo e saem deles. Pouco mais á frente, unem-se novamente.


Caminhemos um pouco mais no nosso desenho. Depois que esses fios entram no bulbo  e percorrem mais da metade desse órgão, eles se unem novamente, tendo uma aparência de um triângulo grosso de um lado e fino no vértice, como uma pirâmide. Por causa dessa aparência, a região é conhecida como "pirâmide" ou "região Piramidal". 

Repare como os fios entram separados e no final 
aparecem como um só e bem grosso.


Isto acontece porque esses fios se preparam para entrarem na coluna vertebral onde ficarão, como já vimos, bem protegidos pelos ossos (vértebras) que possuem um orifício em seu centro. Para entrarem nesse orifício precisam formar um cordão. Por isso ficam bem juntos e se torcem várias vezes. Agora, se unem definitivamente e formam um cordão ou feixe nervoso. 



Veja como entram na coluna vertebral.

Mais adiante se ramificam em três partes: uma para cada membro superior e outro que continha coluna abaixo. Essas ramificações são chamadas de nervos motores. É por causa desses nervos que somos capazes de movimentar antebraço, o braço, a mão e os dedos de ambos os lados. Quase no final da coluna existe outra ramificação. Desta vez, eles seguem na direção dos membros inferiores, ou seja, para as pernas e nos permite movê-las para andar, correr, sentar etc.

 Mas o que isto tem a ver com a Paralisia Cerebral? 


Todos esses fios se referem apenas ao aspecto motor, Mas nesse emaranhado de fios existem vários outros que comandam nosso corpo e tudo o que fazemos e sentimos. Todo esse conjunto é conhecido como Sistema Nervoso Central (SNC). 

Se, por acaso a lesão da Paralisia Cerebral atacar, interromper ou destruir um (ou mais) desses fios antes ou depois da "região piramidal" (a do triângulo dentro do bulbo), é chamada de disfunção extrapiramidal, prejudicando os movimentos porque passa a não funcionar da forma como deveria e apresenta alguns sintomas característicos.

Porém,se a lesão da Paralisia Cerebral atacar, interromper ou destruir os fios dentro do triângulo que se parece com uma pirâmide, provocará outros tipos de sintomas mais perversos que os anteriores. É a chamada disfunção piramidal.


O conhecimento desta região e a localização das lesões definem os tipos e a gravidade da Paralisia Cerebral. Mas isto, trataremos na próxima postagem. Até lá e espero que tenham entendido e gostado.

domingo, 10 de dezembro de 2017

O QUE É A PARALISIA CEREBRAL?

A Paralisia Cerebral é um distúrbio de caráter permanente dos movimentos e da postura. Essa lesão NÃO é progressiva, NEM é degenerativa, e está localizada na região cerebral que controla os movimentos.


Esta lesão que danifica o sistema nervoso central (SNC) ou prejudica o seu funcionamento e que pode ocorrer antes, durante ou depois do parto.

A criança com PC passa pelos mesmos estágios de desenvolvimento físico e mental que todas as outras crianças passam. Apenas apresenta dificuldades motoras dependendo do tamanho da lesão, da sua localização e do que foi afetado por ela. Fora isto, nada mais é diferente.

CAUSAS


As causas da Paralisia Cerebral são variadas. As causas podem ser:
1) desenvolvimento anormal congênito na área motora do cérebro ou do cerebelo;
2) falta de oxigenação do cérebro no momento do parto, partos prematuros ou muito demorados;
3) necessidade do uso de fórceps;
4) eritroblastose é uma incompatibilidade por Rh (se a mãe tiver Rh- e o filho Rh+. Neste caso, o corpo da mãe cria anticorpos que atacam o Rh+ do filho);
5) infecções cerebrais (encefalites)
6) qualquer condição que crie uma anormalidade cerebral ou cerebelar. Como desenvolvimento anormal pode ter como causa um erro genético durante a gestação. Ex: o erro na migração dos neurônios ou uma malformação cerebral ou do cerebelo

INCIDÊNCIA


Bebês nascidos com Paralisia Cerebral no mundo é grande. Corresponde a 10 bebês a cada 1000 nascidos vivos. Parece pouco, mas não é. Contando-se a população mundial aproximada de 6 milhões de pessoas, 600 mil nascem com PC. Nos países mais desenvolvidos, o número é menor (3 para cada grupo de 1000 bebês nascidos vivos), porém nos países mais pobres e menos desenvolvidos (7 ou 8 para cada grupo de 1000 bebês nascidos vivos). Nos EUA nascem 20 mil novas crianças com PC, por ano. No Brasil, como não há estudos e estatísticas que comprovem o número exato, presume-se que seja uma quantidade elevada.

SINTOMAS


É preciso saber que os bebês nascidos com esta alteração NÃO APRESENTAM ESTIGMAS, ou seja, sem sinais ou características físicas visíveis e que mostrem que eles têm paralisia cerebral, como acontecem com nascidos com as Síndromes de Down e da X Frágil. Portanto, pais e médicos não sabem que existe essa alteração. Daí o diagnóstico ser tardio.

 Durante os 3 primeiros meses de vida do bebê tudo ainda é normal. O bebê se alimenta e se movimenta naturalmente por ser uma fase reflexiva, ou seja, os movimentos que ele faz são chamados de reflexos (movimentos são instintivos e não dependem da vontade do bebê).

Somente após o 4º ou 5º mês de vida quando os reflexos terminam e o bebê se movimenta por vontade própria, é que os primeiros sintomas da PC começam a aparecer. Os músculos se enrijecem, as articulações ficam mais dificultosas. O bebê passa a encontrar dificuldade para sugar (sucção) e engolir (deglutição) o leite durante as mamadas. A seguir, o bebê deseja movimentar as pernas ou os braços e não consegue. Demora para virar de lado no berço ou de erguer a cabeça. Podem aparecer movimento descontrolados e/ou exagerados, sinal de que a PC está se instalando.


É quando estes primeiros sintomas aparecem que os pais devem procurar de imediato um neurologista. Embora a PC seja permanente, o diagnóstico e o tratamento precoce ajudam a minimizar os efeitos da lesão.


Dependendo da força com que se instala e do agravamento causado nas condições da pessoa e dos danos que se verifica pela demora do início do tratamento, é que se classifica a PC como: leve, moderada ou severa.

CONTINUA

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

"NÃO SOU INCAPAZ"

"TODO MUNDO ACHA, MAS NÃO SOU INCAPAZ". Esta é uma frase corriqueira que o garoto (que tem paralisia cerebral moderada grave) diz com os olhos marejados de lágrimas em todas as vezes que ele aprende algo novo nos atendimentos. É de cortar o coração. Ele sempre costuma soltar seus desabafos. 

Mas esta frase calou mais fundo recentemente, enquanto aprendia a ADIÇÃO COM RESERVA (ou seja, contas com "vai 1"). 



Como os leitores sabem, comecei o Sistema de Numeração usando tampinhas de embalagens plásticas porque era mais fácil para ele manusear do que os cubinhos do Material Dourado que gosto de usar. Mas deixei-as de lado e passei a usar um material concreto e simbólico de decomposição de numerais. É uma espécie de ábaco.



Com esse material, além de trabalhar o conteúdo matemático em questão, trabalho também: a) a mecânica da operação de adição com reserva; b) a formação e representação simbólica e numérica no concreto, a leitura dos numerais; c)  a formação e a decomposição dos numerais (Visão de Conjunto); d) a contagem; e) a coordenação motora através do encaixe das peças, de esticar e elevar a mão ativa e f)  usar para a mão inativa  para segurar a peça. E tudo sem que ele tenha conhecimento disso. Porém, passo a passo.


PREPARAÇÃO DO NOVO CONTEÚDO

Como é um material novo eu o apresento ao garoto. Deixo que ele o manipule um pouco. Mostro ainda o valor posicional (unidade, dezena e centena) e o local onde serão colocadas as peças (laranja, azul e vermelha) que representam simbolicamente seus valores. 

Ábaco e Visão de Conjunto

Como auxílio de outro material (Visão de Conjunto) são trabalhados: a formação do número, sua decomposição e a leitura. Repito algumas vezes, não só nos dias da apresentação, mas também nos atendimentos subsequentes para que esse mecanismo seja fixado. Num primeiro momento, eu dou o número (dentro da numeração que já foi trabalhada) com a Visão de Conjunto e ele coloca as peças. Num outro momento, eu coloco as peças e ele usa o outro material para representar a quantidade ali colocada. Por último, eu peço o número e ele faz os coloca as peças segundo o valor posicional, representa numericamente com a Visão de Conjunto e faz a leitura do número. 

Enquanto isso, as operações de adição  e subtração simples e a numeração transcorrem normalmente.


ADIÇÃO SIMPLES NO NOVO MATERIAL 



Adicionando pequenas quantidades

As tampinhas ocupavam muito espaço na mesa de trabalho e com os espasmos, muitas vezes havia mistura delas e forçosamente era preciso recomeçar. E como ele já sabia usar o novo material, ficou mais fácil transferir a operação de adição para ele. E comecei com números baixos sem a necessidade dos  famosos "Vai 1".

As operações a serem calculadas estavam no caderno. Líamos o numeral da primeira parcela e ele colocava as peças nos lugares corretos com o material correspondente. Repetíamos da mesma forma com a outra parcela e coloca as peças por cima das que já tinham sido colocadas. Depois, ele contava começando pela unidade (laranja), e as outras cores (azul e vermelho) na sequência. No início eu montei algumas para mostrar-lhe como deveria fazer e depois, deixei a cargo dele. Repetimos "n" vezes, um pouco a cada atendimento.


PREPARANDO A NOÇÃO DE RESERVA

Com o mesmo material desta vez vazio, coloquei 9 unidades (peças laranja) e pedi que contasse. Depois coloquei mais uma e pedi que contasse novamente e pegasse na visão de conjunto o número correspondente. E ele faz.

Fiz ele notar que o 10 tinha dois dígitos e que eles não cabiam no lugar das unidades, pois na unidade só cabe um dígito. Como não entendeu, perguntei a ele quantos sapatos ou tênis ele colocava em cada pé. E ele respondeu que colocava um só. perguntei por que não podia colocar dois ou três? 

- Porque não cabem. - foi a resposta. Ele havia entendido. Depois, foi só fazer a relação entre sua resposta e o que ocorria nas contas.

Mostrei então, que cada 10 unidades pode ser trocada por uma peça azul (valor de dezena) e que devia ser colocada no "palito" ao lado. Disse ainda que ao fazer isso, dizemos "Vai 1". Ele achou engraçado e riu. E o riso se transformou numa gostosa gargalhada. 

AVANÇOS NA NUMERAÇÃO


Só para lembrar.

Depois de repetir várias vezes esse procedimento e com outras quantidades que somadas davam 10, a numeração chegou ao 100. Expliquei a grafia desse número ( CEM) e comparei com a outra palavra  que possui o mesmo som (homófona), mas não a mesma grafia (homógrafa) que é o termo SEM e que significa "falta ou a não existência de". Vocês devem se lembrar, pois já foi postada anteriormente. 

Era, portanto, o momento de trabalharmos uma nova série e que parte do 100 até o 109. E com essa nova série, ele precisava entender a presença do zero na casa da dezena e o um (representando simbolicamente a centena em vermelho) e que ocupa uma casa chamada "CENTENA".  E que os termos: CEM, CENTO E CENTENA querem dizer a mesma coisa (100). Com isto trabalhamos também, além do que já foi mencionado no início: a leitura, a grafia, a oralidade e ampliação do vocabulário.

Explico também que a casa da centena contém todos os grupos, conjuntos ou quantidades de 100 unidades (mostradas concretamente com o Material Dourado) que ocupam essa casa e novos grupos de 100, como o 200, 300, até o 900 e a nomenclatura das 9 centenas (também já postadas em outra oportunidade). Trabalhamos isso repetindo algumas vezes, pois a fixação virá a seu tempo. O objetivo era apenas para saber onde ele se encontra e o que virá pela frente.

A fixação da primeira série transcorreu normalmente com a repetição dos exercícios de rotina (completar a sequencia, maior e menor, vizinhos, etc. Inclui também pares e ímpares).



OPERAÇÕES COM RESERVA NA UNIDADE


                       Retirando as 10 unidades        e          colocando o "VAI 1"                            
Estamos agora na adição com reserva propriamente dita. Mas ainda nas unidades para que fixe bem. E tudo transcorrendo como o esperado: com facilidade e melhor desenvolvimento do garoto. Como todo aprendiz, ás vezes se confunde na nomenclatura. Diz vinte ou quatro quando é o quarenta. Mas é só pedir que observe e pense melhor que tudo se encaixa.  E estou trabalhando este assunto desde novembro do ano passado. Demorado? Sim, é, mas vale a pena porque seus progressos são notórios. E em breve, muito breve mesmo, passaremos para as reservas nas dezenas. 

Retomamos as subtrações simples  com números com centenas também. E em breve, também iniciaremos as subtrações com recurso, ou seja, "contas de emprestar".

Ele mostra ter plena consciência de que está progredindo, principalmente quando compara sua vida antes na escola e a de agora no atendimento. Só não são maiores e mais rápidos porque passou muito tempo dependente dos outros, pois na família todos faziam tudo para ele, por ele e no lugar dele, negligenciando suas vontades e capacidades. na escola, considerado como incapaz, ninguém fazia nada. Ficava lá sentado e dormindo segundo o próprio garoto. E agora, a autonomia não ensinada está lhe sendo sendo cobrada.

O objetivo de trazer esta frase dita pelo garoto como tema desta postagem é o de fazer pais e professores entenderem que, mesmo com uma deficiência, essas crianças e jovens são pessoas e devem se desenvolver integralmente.  

Por desenvolvimento integral de uma pessoa com deficiência entende-se que podemos desenvolver as habilidades e as capacidades que todos possuem e do jeito que conseguem. É ter o direito de receber educação formal (escolar) e informal (vida), ter direito a saúde física, mental e emocional, ter autonomia e ter convivência social. 

A Paralisia Cerebral é formada por uma lesão cerebral por erro, falta de oxigenação ou mutação genética.  Essa lesão não paralisa o cérebro, mas atinge os músculos tornando-os endurecidos. No entanto, as pessoas acreditam que, devido ao termo "paralisia", o cérebro não funciona e tratam essas pessoas como se fossem pessoas incapacitadas de pensar, agir e sentir. 

A única coisa que não pode é deixá-los sem instrução. Não importa a metodologia  usada. O importante é que crianças e jovens com paralisia cerebral seja qualquer que seja seu grau de dificuldade receba o que lhe é devido legalmente: instrução e bom desenvolvimento. E se nenhuma metodologia for capaz de desenvolvê-lo da forma como tem direito e merece, crie uma própria para eles. 


Até a próxima.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A SOLUÇÃO PARA O DOWN

Voltando à postagem "NEM TUDO SÃO FLORES" fiquei de mostrar a solução encontrada para o problema do Down que se recusava a fazer as atividades. Aquela recusa não era algo pessoal, pois quando brincamos era bastante receptivo e o fato de encostar a cabeça no meu peito mostrava afeto e confiança.Se fosse algo pessoal, isto não aconteceria. E, se não era nada comigo, só poderia ser com as atividades. 

Decidi mudar tudo. E talvez o seu protagonismo seria a solução. Mas como ele não escreve, pinta rabiscando e não desenha? Mas é claro que fica mais difícil, no entanto não é impossível.  Se o garoto com Paralisia Cerebral cola porque não escreve, por que não o Down? E foi o que fiz.

Preparei uma atividade em que me mostrasse o que sabe e fizesse alguma coisa sozinho. Preparei desenhos e palavras e letras correspondentes a eles. E percebi que ele conhece bem as vogais. Entreguei a cola e vejam como a tarefa ficou:


Em seguida, colou na estrela todas as vogais e sozinho.


Saberia outras coisas? Reconheceria algumas palavras? E foi o que eu tentei saber.
Novamente os desenhos e palavras soltas. Espalhei-as sobre a mesa, mostrei as figuras uma a uma, e ele escolhia a palavra a ser colada. E ele identificou todas com acerto.

  

Foi o mesmo com a numeração. E posso afirmar com certeza que ele conhece muito bem os numerais de 1 a 9. Porém, não os relaciona com as quantidades. Fiz o mesmo com os numerais. como ele não conta, contei para ele. Enquanto isso, ele já ia pegando o numeral, passava cola e colava (de cabeça para baixo). E eu desvirava para que ficasse na ordem correta. Mas já era algo bom. Pelo menos, tinha agora a certeza de era capaz de identificar.


Colando de cabeça para baixo, o menino mostrava não perceber as direções. para ele tanto fazia se estava na posição correta ou não. Estava feliz por estar fazendo coisas sozinho e isso bastava.

Trabalhando as quantidades, tenho um jogo de numerais de 1 a 9 de EVA. Cada número tem furos na quantidade que cada numeral representa. Dei a ele e vejam:

Só trabalhei essas quantidades nesse dia.

Trabalhei ainda o traçado do DOIS.  Antes de pegar no lápis, ele fez o caminho com bolinhas de gude, cubinho do material dourado e um dado, usou o dedinho entre outras coisas que tinha no momento. Mas do que gostou mesmo, foi de um carrinho desenhado e recortado que ele colou no final do caminho. Já na hora de traçar o dois no pontilhado, esperou que eu pegasse em sua mão. Fizemos juntos os primeiros e o restante fez sozinho. Nada mal, não acham?

 


Trabalhando a coordenação motora fina, fez tudo direitinho e ate com tal capricho não visto em situações anteriores.


Apresenta uma dificuldade imensa em contornar desenhos, principalmente, se as linhas forem curvas, mesmo pegando em sua mão. Os rabiscos que você vê são do colorido. Ele não conhece também os limites de uma figura.




Trabalhando outras noções confirmo suas dificuldades. Para colorir o baixo inicia pintando a caixa maior. Digo "NAO" e ele colore a outra. Se soubesse, iria direto na caixa mais baixa. E insisto com outros desenhos.


  
Peço agora que dê um colorido no ALTO  e ao apontar para o pequeno, digo: "alto é igual ao grande no desenho". Imediatamente ele vira o lápis para o outro desenho e o colore.  E isso só me dá a certeza de que ele só conhece o que é "GRANDE e PEQUENO".


 RECADO que quero deixar como a pais e professores sobre este assunto é que:

 1- não estou aqui para reclamar da função que optei por seguir, nem simplesmente para expor  as dificuldades de uma criança, nem mesmo para ridicularizá-la diante dos leitores. O objetivo é mostrar que num atendimento psicopedagógico, as coisas acontecem do mesmo jeito como em casa ou na escola. As dificuldades que enfrentamos são as mesmas. 

2- que a maioria dos professores encaram a deficiência intelectual como incapacidade. E não buscam outras alternativas. Dá trabalho? Sim, dá. Dá trabalho de pesquisa, de criatividade, de fazer materiais específicos e alternativos, de pensar em uma nova solução. Mas é compensador.

3- a maioria ainda acredita que, por ter um ou mais deficientes intelectuais numa sala de aula comum já está ajudando essa(s) criança(s). Em parte está: nas sociabilidade. Mas uma pessoa vive apenas do social? Eu acredito que para viver uma criança precisa de várias habilidades, de autonomia e daquilo que consegue aprender. Mesmo tendo uma deficiência isso é importante. E precisamos mostrar a elas alternativas de ação. Se não dá de um jeito X, existem outras maneiras, outras formas, outras opções. E todas são válidas.

4- pais e professores devem pensar no futuro dessa criança. E ela será um adulto no futuro. Que pais deixam de existir um dia pois ninguém é eterno. E os professores passam por sua vida como uma lufada de vento. E quem cuidará delas? Como sobreviverão se isto acontecer? 

5- que uma recusa nem sempre é afetiva. A mesmice das atividades propostas aos deficientes intelectuais gera o enfado. As repetições que tanto falo, não significa que devam ser sempre da mesma forma (o pontilhado, por exemplo). Busque outras formas para trabalhar o assunto. Lembre que: o assunto deve ser repetido para sua fixação na memória de longo prazo, a forma NÃO tem essa necessidade.

6- que, mais importante que a inclusão (porque mal nascemos já estamos inclusos num grupo social, a família, e em outro grupo maior, o mundo) é a INSERÇÃO.  Aceitar um deficiente intelectual na escola e colocá-lo junto com uma turma de mesma idade é INCLUSÃO. Bem diferente de INSERÇÃO.  Inserir é tratá-la como gente, como igual a todos, com direitos e deveres que devem ser respeitados, aprendidos, desenvolvidos e respeitados. E isto, poucas escolas tem feito. Que me desculpem meus colegas professores, mas o que tem sido feito com este aluno, que fizeram com o garoto com paralisia cerebral não se faz.

domingo, 15 de outubro de 2017

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

NEM TUDO SÃO FLORES 2

No primeiro dia de avaliação foi tudo bem. O garoto com Down fez tudo o que foi proposto: exercícios de coordenação motora fina e de preensão, coloriu, cortou papel com as mãos e uma porção de joguinhos, todos de modo muito rápido. E foi nesse mesmo dia que percebi o que postei na vez passada.

Só no último exercício de contornar cobrindo os tracinhos que ele resolveu deixá-lo deste jeito:
 

No segundo dia de avaliação, resolvi continuar com os mesmos tipos de exercício de coordenação motora fina porque ele havia mostrado muita dificuldades e para comprovar ou não as minhas observações. Mesmo antes de começarmos, enquanto arrumava tudo, eu punha alguns objeto em pé e ele derrubava.


Vocês já o conhecem. É o mesmo que usei com o garoto com Paralisia Cerebral em que deveria passar a bola de um pote para outro com uma das mãos e voltar com outra. Recoloquei os potes no seus devidos lugares por várias vezes e bastava me virar para pegar os outros ou a bola e ele tornava a derrubar. Ao mostrar-lhe a bola e como ele deveria fazer e ele parou. Entreguei a bola para ele e, em vez de colocar como havia lhe mostrado, começou a atirá-la sobre os objetos derrubando-os novamente. Por isso, já que não fazia o que lhe era pedido, abortei o exercício e fomos para o caderno.

A partir de então, tudo o que era proposto ele fazia e depois rabiscava.


E foi assim com o restante dos exercícios. Fazia alguma coisa se eu pegasse em sua mão. E assim que eu a soltava, rabiscava tudo. O mesmo aconteceu ao verificar seus conhecimentos em matemática. No primeiro exercício era para traçar o numeral 1 que estava pontilhado e no segundo, colar a quantidade. 

 
exercício 1                            exercício 2

Fiz o primeiro exercício segurando em sua mão, ele deveria fazer o restante.  Eu esta sentada a seu lado, com o braço por trás dele e segurando em sua mão. Os primeiros saíram perfeitos mas os seguintes, mesmo com a mão a mão sobre a dele saíram irregulares. E uma dúvida surgiu: as lições feitas nos cadernos escolares estavam com traçados perfeitos. Talvez as professoras (atual e anteriores) agissem dessa maneira com ele. Perguntei sobre esse fato com a mãe e ela confirmou. 

Outra coisa interessante foi o fato de que, enquanto traçávamos o numeral ele apoiou sua cabeça no meu peito e fechou os olhos, fato que comprovava a minha dúvida e que não direcionava o olhar para o que fazia. Só não rabiscou este porque virei o caderno rapidamente. 

No segundo exercício, com o numeral já traçado onde ele deveria colar a quantidade. Mas enquanto esperava eu passar cola e dar para que ele as colasse, lá estava ele rabiscando o que já estava feito. Reparem que em nenhum momento ele  rabiscou o que ele havia colado. Interessante, não é mesmo? Que significado teria isso? Ou o que estaria querendo expressar?

Com a letra A para verificar se aconhecia, foi a mesma coisa. No primeiro, comecei com a caixa de areia para traçar o A. Ele não queria colocar a mão dentro. Dei então uma bolinha de gude para que o fizesse, mas ele a jogou longe. Dei então um fuso e então, começou a jogar a areia para fora.


Voltamos então para o caderno. O traçado com pontilhado da letra já estava pronto e era só cobrir. E novamente encostou cabeça no meu peito. Fizemos o grande juntos, e os dois primeiros no pontilhado. E pedi que fizesse os demais sozinho. 

No segundo ele pintou sozinho, e ao pedir que traçasse os outros A bem colorido com os gizes de cera, ele simplesmente rabiscou todos. 

 

exercício 1                            exercício 2

Confundiu colorir com cobrir? Ou quis expressar outra coisa? Mas o quê?

Para não ficar maçante, costumo intercalar exercícios de coordenação motora com exercícios de alfabetização (da língua ou de matemática com os de coordenação). e o exercício seguinte era o de contornar o desenho de uma locomotiva. Eram apenas linhas retas, nada difícil para quem sabe ligar figuras.


Assim que o viu o ouviu o que fora pedido,ele derrubou uma cadeira que estava ao seu lado.  E ele rabiscou novamente. Peguei em sua mão novamente e tudo aconteceu novamente: a cabeça no meu peito, o olhar distante e sem direção, mão tão frouxa e abandonada que os traços saíram fora do risco. Peguei o giz azul e pintei a locomotiva para mostrar como deveria pintar. E ele coloriu o restante deste jeito.


Verificando os conhecimentos básicos ou prévios (como é conhecido nas escolas) identifico que não os conhece, portanto, não existem em seu vocabulário. Tanto que rabisca as duas alternativas, o que comprova as minhas observações anteriores.


 


Os termos alto, baixo, grosso e fino, igual e diferente são tão óbvios, mas que ele não conhece. E talvez com receio de errar ou de não fazer direito rabisque os dois.


Ofereço em seguida um quebra-cabeça com apoio visual.  Peças soltas e uma folha com o traçado da forma. Ele coloca cada peça no lugar exato mas de cabeça para baixo. No momento da colagem, entrego a ele num jeito que não seja capaz de desvirar porque não percebe se ficou ou não de cabeça para baixo. Perceberam  que este não foi rabiscado?

Finalizando por hoje, restava alguns minuto para terminar o atendimento. Foi então que resolvi pedir que fizesse algum desenho.  E vejam o que ele fez:

 

Depois de muito pensar sobre o que observei chego a seguinte conclusão: 
1- O fato de rabiscar indica resistência. Mas não é a mim (senão não encostaria sua cabeça no meu peito), mas aos exercícios. Não porque não goste de fazê-los, mas porque só passam isso na escola como verifiquei ao olhar seus cadernos e tarefas escolares. Ele as faz em folhas, com as palavras em pontilhados. E, talvez isto venha ocorrendo desde sua entrada na escola.

2- O fato de a professora (s) pegarem em sua mão sempre para realizar suas tarefas criou um hábito e tirando a chance de conquistar autonomia (fazer sozinho). Talvez no começo precisasse, mas à medida em que foi crescendo teria que perder esse hábito, mesmo com todas as dificuldades.

3- Se esta criança ainda  NUNCA desenhou na vida e não foi estimulado a desenhar (mesmo que seja do seu jeito ou do jeito que consegue) como poderá escrever? Sabe-se que o desenho é a primeira forma de escrita (segundo Lowenfeld) desde os tempos mais primitivos e revivido no desenvolvimento de cada criança. Por isso, ainda se encontra na fase das garatujas desordenadas.

4- Quanto aos conhecimentos prévios ou básicos como poderia saber se ninguém os ensinou? Se não constam do seu vocabulário do dia a dia? Em casa, é mais fácil dizer grande ou pequeno (que é a única noção que conhece bem) do que ensinar as demais noções. Mas não os culpo. Talvez não tenham o conhecimento necessário. Mas e a escola? Por que não supriu esta falta? 

5- Quanto a haver ficado alguns exercícios sem ser rabiscado mostra o seguinte: ele valoriza o que ele faz sozinho e sem ajuda. portanto, não posso agir com agem na escola. Como resolvi esta questão? A resposta fica para a próxima postagem.

Continua