"TODO MUNDO ACHA, MAS NÃO SOU INCAPAZ". Esta é uma frase corriqueira que o garoto (que tem paralisia cerebral moderada grave) diz com os olhos marejados de lágrimas em todas as vezes que ele aprende algo novo nos atendimentos. É de cortar o coração. Ele sempre costuma soltar seus desabafos.
Mas esta frase calou mais fundo recentemente, enquanto aprendia a ADIÇÃO COM RESERVA (ou seja, contas com "vai 1").
Como os leitores sabem, comecei o Sistema de Numeração usando tampinhas de embalagens plásticas porque era mais fácil para ele manusear do que os cubinhos do Material Dourado que gosto de usar. Mas deixei-as de lado e passei a usar um material concreto e simbólico de decomposição de numerais. É uma espécie de ábaco.
Com esse material, além de trabalhar o conteúdo matemático em questão, trabalho também: a) a mecânica da operação de adição com reserva; b) a formação e representação simbólica e numérica no concreto, a leitura dos numerais; c) a formação e a decomposição dos numerais (Visão de Conjunto); d) a contagem; e) a coordenação motora através do encaixe das peças, de esticar e elevar a mão ativa e f) usar para a mão inativa para segurar a peça. E tudo sem que ele tenha conhecimento disso. Porém, passo a passo.
Mas esta frase calou mais fundo recentemente, enquanto aprendia a ADIÇÃO COM RESERVA (ou seja, contas com "vai 1").
Como os leitores sabem, comecei o Sistema de Numeração usando tampinhas de embalagens plásticas porque era mais fácil para ele manusear do que os cubinhos do Material Dourado que gosto de usar. Mas deixei-as de lado e passei a usar um material concreto e simbólico de decomposição de numerais. É uma espécie de ábaco.
Com esse material, além de trabalhar o conteúdo matemático em questão, trabalho também: a) a mecânica da operação de adição com reserva; b) a formação e representação simbólica e numérica no concreto, a leitura dos numerais; c) a formação e a decomposição dos numerais (Visão de Conjunto); d) a contagem; e) a coordenação motora através do encaixe das peças, de esticar e elevar a mão ativa e f) usar para a mão inativa para segurar a peça. E tudo sem que ele tenha conhecimento disso. Porém, passo a passo.
PREPARAÇÃO DO NOVO CONTEÚDO
Como é um material novo eu o apresento ao garoto. Deixo que ele o manipule um pouco. Mostro ainda o valor posicional (unidade, dezena e centena) e o local onde serão colocadas as peças (laranja, azul e vermelha) que representam simbolicamente seus valores.
Ábaco e Visão de Conjunto
Como auxílio de outro material (Visão de Conjunto) são trabalhados: a formação do número, sua decomposição e a leitura. Repito algumas vezes, não só nos dias da apresentação, mas também nos atendimentos subsequentes para que esse mecanismo seja fixado. Num primeiro momento, eu dou o número (dentro da numeração que já foi trabalhada) com a Visão de Conjunto e ele coloca as peças. Num outro momento, eu coloco as peças e ele usa o outro material para representar a quantidade ali colocada. Por último, eu peço o número e ele faz os coloca as peças segundo o valor posicional, representa numericamente com a Visão de Conjunto e faz a leitura do número.
Enquanto isso, as operações de adição e subtração simples e a numeração transcorrem normalmente.
ADIÇÃO SIMPLES NO NOVO MATERIAL
Adicionando pequenas quantidades
As operações a serem calculadas estavam no caderno. Líamos o numeral da primeira parcela e ele colocava as peças nos lugares corretos com o material correspondente. Repetíamos da mesma forma com a outra parcela e coloca as peças por cima das que já tinham sido colocadas. Depois, ele contava começando pela unidade (laranja), e as outras cores (azul e vermelho) na sequência. No início eu montei algumas para mostrar-lhe como deveria fazer e depois, deixei a cargo dele. Repetimos "n" vezes, um pouco a cada atendimento.
PREPARANDO A NOÇÃO DE RESERVA
Com o mesmo material desta vez vazio, coloquei 9 unidades (peças laranja) e pedi que contasse. Depois coloquei mais uma e pedi que contasse novamente e pegasse na visão de conjunto o número correspondente. E ele faz.
Fiz ele notar que o 10 tinha dois dígitos e que eles não cabiam no lugar das unidades, pois na unidade só cabe um dígito. Como não entendeu, perguntei a ele quantos sapatos ou tênis ele colocava em cada pé. E ele respondeu que colocava um só. perguntei por que não podia colocar dois ou três?
- Porque não cabem. - foi a resposta. Ele havia entendido. Depois, foi só fazer a relação entre sua resposta e o que ocorria nas contas.
Mostrei então, que cada 10 unidades pode ser trocada por uma peça azul (valor de dezena) e que devia ser colocada no "palito" ao lado. Disse ainda que ao fazer isso, dizemos "Vai 1". Ele achou engraçado e riu. E o riso se transformou numa gostosa gargalhada.
AVANÇOS NA NUMERAÇÃO
Só para lembrar.
Era, portanto, o momento de trabalharmos uma nova série e que parte do 100 até o 109. E com essa nova série, ele precisava entender a presença do zero na casa da dezena e o um (representando simbolicamente a centena em vermelho) e que ocupa uma casa chamada "CENTENA". E que os termos: CEM, CENTO E CENTENA querem dizer a mesma coisa (100). Com isto trabalhamos também, além do que já foi mencionado no início: a leitura, a grafia, a oralidade e ampliação do vocabulário.
Explico também que a casa da centena contém todos os grupos, conjuntos ou quantidades de 100 unidades (mostradas concretamente com o Material Dourado) que ocupam essa casa e novos grupos de 100, como o 200, 300, até o 900 e a nomenclatura das 9 centenas (também já postadas em outra oportunidade). Trabalhamos isso repetindo algumas vezes, pois a fixação virá a seu tempo. O objetivo era apenas para saber onde ele se encontra e o que virá pela frente.
A fixação da primeira série transcorreu normalmente com a repetição dos exercícios de rotina (completar a sequencia, maior e menor, vizinhos, etc. Inclui também pares e ímpares).
OPERAÇÕES COM RESERVA NA UNIDADE
Retirando as 10 unidades e colocando o "VAI 1"
Estamos agora na adição com reserva propriamente dita. Mas ainda nas unidades para que fixe bem. E tudo transcorrendo como o esperado: com facilidade e melhor desenvolvimento do garoto. Como todo aprendiz, ás vezes se confunde na nomenclatura. Diz vinte ou quatro quando é o quarenta. Mas é só pedir que observe e pense melhor que tudo se encaixa. E estou trabalhando este assunto desde novembro do ano passado. Demorado? Sim, é, mas vale a pena porque seus progressos são notórios. E em breve, muito breve mesmo, passaremos para as reservas nas dezenas.
Retomamos as subtrações simples com números com centenas também. E em breve, também iniciaremos as subtrações com recurso, ou seja, "contas de emprestar".
Retomamos as subtrações simples com números com centenas também. E em breve, também iniciaremos as subtrações com recurso, ou seja, "contas de emprestar".
Ele mostra ter plena consciência de que está progredindo, principalmente quando compara sua vida antes na escola e a de agora no atendimento. Só não são maiores e mais rápidos porque passou muito tempo dependente dos outros, pois na família todos faziam tudo para ele, por ele e no lugar dele, negligenciando suas vontades e capacidades. na escola, considerado como incapaz, ninguém fazia nada. Ficava lá sentado e dormindo segundo o próprio garoto. E agora, a autonomia não ensinada está lhe sendo sendo cobrada.
O objetivo de trazer esta frase dita pelo garoto como tema desta postagem é o de fazer pais e professores entenderem que, mesmo com uma deficiência, essas crianças e jovens são pessoas e devem se desenvolver integralmente.
Por desenvolvimento integral de uma pessoa com deficiência entende-se que podemos desenvolver as habilidades e as capacidades que todos possuem e do jeito que conseguem. É ter o direito de receber educação formal (escolar) e informal (vida), ter direito a saúde física, mental e emocional, ter autonomia e ter convivência social.
A Paralisia Cerebral é formada por uma lesão cerebral por erro, falta de oxigenação ou mutação genética. Essa lesão não paralisa o cérebro, mas atinge os músculos tornando-os endurecidos. No entanto, as pessoas acreditam que, devido ao termo "paralisia", o cérebro não funciona e tratam essas pessoas como se fossem pessoas incapacitadas de pensar, agir e sentir.
A única coisa que não pode é deixá-los sem instrução. Não importa a metodologia usada. O importante é que crianças e jovens com paralisia cerebral seja qualquer que seja seu grau de dificuldade receba o que lhe é devido legalmente: instrução e bom desenvolvimento. E se nenhuma metodologia for capaz de desenvolvê-lo da forma como tem direito e merece, crie uma própria para eles.
A única coisa que não pode é deixá-los sem instrução. Não importa a metodologia usada. O importante é que crianças e jovens com paralisia cerebral seja qualquer que seja seu grau de dificuldade receba o que lhe é devido legalmente: instrução e bom desenvolvimento. E se nenhuma metodologia for capaz de desenvolvê-lo da forma como tem direito e merece, crie uma própria para eles.
Até a próxima.
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