sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A SOLUÇÃO PARA O DOWN

Voltando à postagem "NEM TUDO SÃO FLORES" fiquei de mostrar a solução encontrada para o problema do Down que se recusava a fazer as atividades. Aquela recusa não era algo pessoal, pois quando brincamos era bastante receptivo e o fato de encostar a cabeça no meu peito mostrava afeto e confiança.Se fosse algo pessoal, isto não aconteceria. E, se não era nada comigo, só poderia ser com as atividades. 

Decidi mudar tudo. E talvez o seu protagonismo seria a solução. Mas como ele não escreve, pinta rabiscando e não desenha? Mas é claro que fica mais difícil, no entanto não é impossível.  Se o garoto com Paralisia Cerebral cola porque não escreve, por que não o Down? E foi o que fiz.

Preparei uma atividade em que me mostrasse o que sabe e fizesse alguma coisa sozinho. Preparei desenhos e palavras e letras correspondentes a eles. E percebi que ele conhece bem as vogais. Entreguei a cola e vejam como a tarefa ficou:


Em seguida, colou na estrela todas as vogais e sozinho.


Saberia outras coisas? Reconheceria algumas palavras? E foi o que eu tentei saber.
Novamente os desenhos e palavras soltas. Espalhei-as sobre a mesa, mostrei as figuras uma a uma, e ele escolhia a palavra a ser colada. E ele identificou todas com acerto.

  

Foi o mesmo com a numeração. E posso afirmar com certeza que ele conhece muito bem os numerais de 1 a 9. Porém, não os relaciona com as quantidades. Fiz o mesmo com os numerais. como ele não conta, contei para ele. Enquanto isso, ele já ia pegando o numeral, passava cola e colava (de cabeça para baixo). E eu desvirava para que ficasse na ordem correta. Mas já era algo bom. Pelo menos, tinha agora a certeza de era capaz de identificar.


Colando de cabeça para baixo, o menino mostrava não perceber as direções. para ele tanto fazia se estava na posição correta ou não. Estava feliz por estar fazendo coisas sozinho e isso bastava.

Trabalhando as quantidades, tenho um jogo de numerais de 1 a 9 de EVA. Cada número tem furos na quantidade que cada numeral representa. Dei a ele e vejam:

Só trabalhei essas quantidades nesse dia.

Trabalhei ainda o traçado do DOIS.  Antes de pegar no lápis, ele fez o caminho com bolinhas de gude, cubinho do material dourado e um dado, usou o dedinho entre outras coisas que tinha no momento. Mas do que gostou mesmo, foi de um carrinho desenhado e recortado que ele colou no final do caminho. Já na hora de traçar o dois no pontilhado, esperou que eu pegasse em sua mão. Fizemos juntos os primeiros e o restante fez sozinho. Nada mal, não acham?

 


Trabalhando a coordenação motora fina, fez tudo direitinho e ate com tal capricho não visto em situações anteriores.


Apresenta uma dificuldade imensa em contornar desenhos, principalmente, se as linhas forem curvas, mesmo pegando em sua mão. Os rabiscos que você vê são do colorido. Ele não conhece também os limites de uma figura.




Trabalhando outras noções confirmo suas dificuldades. Para colorir o baixo inicia pintando a caixa maior. Digo "NAO" e ele colore a outra. Se soubesse, iria direto na caixa mais baixa. E insisto com outros desenhos.


  
Peço agora que dê um colorido no ALTO  e ao apontar para o pequeno, digo: "alto é igual ao grande no desenho". Imediatamente ele vira o lápis para o outro desenho e o colore.  E isso só me dá a certeza de que ele só conhece o que é "GRANDE e PEQUENO".


 RECADO que quero deixar como a pais e professores sobre este assunto é que:

 1- não estou aqui para reclamar da função que optei por seguir, nem simplesmente para expor  as dificuldades de uma criança, nem mesmo para ridicularizá-la diante dos leitores. O objetivo é mostrar que num atendimento psicopedagógico, as coisas acontecem do mesmo jeito como em casa ou na escola. As dificuldades que enfrentamos são as mesmas. 

2- que a maioria dos professores encaram a deficiência intelectual como incapacidade. E não buscam outras alternativas. Dá trabalho? Sim, dá. Dá trabalho de pesquisa, de criatividade, de fazer materiais específicos e alternativos, de pensar em uma nova solução. Mas é compensador.

3- a maioria ainda acredita que, por ter um ou mais deficientes intelectuais numa sala de aula comum já está ajudando essa(s) criança(s). Em parte está: nas sociabilidade. Mas uma pessoa vive apenas do social? Eu acredito que para viver uma criança precisa de várias habilidades, de autonomia e daquilo que consegue aprender. Mesmo tendo uma deficiência isso é importante. E precisamos mostrar a elas alternativas de ação. Se não dá de um jeito X, existem outras maneiras, outras formas, outras opções. E todas são válidas.

4- pais e professores devem pensar no futuro dessa criança. E ela será um adulto no futuro. Que pais deixam de existir um dia pois ninguém é eterno. E os professores passam por sua vida como uma lufada de vento. E quem cuidará delas? Como sobreviverão se isto acontecer? 

5- que uma recusa nem sempre é afetiva. A mesmice das atividades propostas aos deficientes intelectuais gera o enfado. As repetições que tanto falo, não significa que devam ser sempre da mesma forma (o pontilhado, por exemplo). Busque outras formas para trabalhar o assunto. Lembre que: o assunto deve ser repetido para sua fixação na memória de longo prazo, a forma NÃO tem essa necessidade.

6- que, mais importante que a inclusão (porque mal nascemos já estamos inclusos num grupo social, a família, e em outro grupo maior, o mundo) é a INSERÇÃO.  Aceitar um deficiente intelectual na escola e colocá-lo junto com uma turma de mesma idade é INCLUSÃO. Bem diferente de INSERÇÃO.  Inserir é tratá-la como gente, como igual a todos, com direitos e deveres que devem ser respeitados, aprendidos, desenvolvidos e respeitados. E isto, poucas escolas tem feito. Que me desculpem meus colegas professores, mas o que tem sido feito com este aluno, que fizeram com o garoto com paralisia cerebral não se faz.

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