terça-feira, 20 de setembro de 2011

O DESENHO E O EIXO PEDAGÓGICO

É o momento de observarmos o eixo pedagógico. Enquanto a criança desenha é importante observar se ela planeja o trabalho ou se coloca as figuras aleatoriamente. Também é de igual importância saber se ela faz antecipações, isto é, se diz o que vai fazer antes de colocar no papel.

Muitas crianças gostam de falar enquanto desenham, explicando o quê e porque colocaram esta ou aquela figura. Outras, trabalham silenciosamente e só falam no final. É, portanto, no momento em que a criança fala sobre o trabalho ou sobre um assunto qualquer, que observamos a linguagem oral. Neste sentido, observamos:

1-       Sobre a oralidade:

-         a pronuncia e a articulação das palavras (se correta, incorreta, se pronuncia todos os sons, se há trocas, omissões ou acréscimos de letras ou sílabas)
-         a fluência da fala ( fàcil ou dificultosa)
-         a tonalidade da voz (alta normal, gritada ou muito baixa)
-         se fala corretamente ou apresenta vícios de linguagem
-         se apresenta uma linguagem com termos regionais, estrangeiros ou não
-         se repete constantemente as mesmas idéias ou as mesmas palavras
-         feita uma pergunta, se a resposta é rápida ou se pensa  antes de responder
-         se as respostas são de muitas palavras ou monossilábicas, compulsivas ou defensivas
-         se entende as ordens orais.

Como exemplo, uma transcrição literal da oralidade de uma criança de 10 anos, estudante de 5º ano do EF:

“Cheguei a um mundu muitu bonitu. Lá tinha montanhas, um sol bem grandão e muitas nuvis e avis nu céu. Eu mi senti... muitu... feliz...Era um lugar um poucu calmu... i um poucu agitadu... purque as avis vuavam u tempu todu. Mais eu... tava feliz”.


2- As histórias orais:

Ao contar uma história oral sobre o desenho feito, observamos:
-         se essa historia possui começo, meio e fim.
-         se está coerente com o desenho feito e com o título que ela mesma escolhe.
-         se são histórias reais ou fantasiosas.
-         se são longas ou curtas.
-         se as idéias fluem com facilidade ou se pensa por algum tempo.
-         se encontra resposta para uma situação criada na história.
-         se há um enredo criativo ou se ele é econômico nos detalhes.

Outro exemplo, desta vez uma criança de 9 anos, estudante do 3º ano, sobre um desenho feito em 3 folhas, que a criança chamou de "partes":


Meu mundo tem um céu vermelho, nuvens pretas e sol, na primeira parte. A borboleta é só uma borboleta que voava por ali. Ela não sente nada, só voava por ali. Na segunda parte, eu estou nadando num rio de suco de laranja. Isto ( apontando para uma gota enorme e na cor laranja) é uma enorme gota de suco de laranja. É ela que forma o rio onde eu estou nadando. E lá, tinha um quadro com três portas. Escolhi a menor porque sou pequeno. Na terceira parte, cheguei a um mundo amarelo. Me senti  estranho. Tudo pesava. O amarelo é Alegria. Só alegria”.

3-     A linguagem escrita:

Algumas crianças gostam de escrever na folha em que desenham. Algumas fazem inscrições, nomeiam as figuras, escrevem frases ou parágrafos inteiros. Neste sentido observamos:

a- A letra:
         
-         o aspecto: legível ou ilegível
-         o tipo: se arredondada, angulosa, regular ou irregular
-         o tamanho; normal, grande ou muito pequena ou grande.
-         a pressão: se deixa marcas no lado oposto da folha.
-         o traçado (correto ou vicioso).
-         se observa o espaço entre as palavras ou une uma com a outra
-         se faz movimentos desnecessários
-         se resiste ou se recusa a escrever,
-         a organização e seqüência das letras na palavra.
-         se pedem opinião ou tiram alguma dúvida




(A criança que escreveu esta frase tinha 9 anos, estudava o 3º ano do EF e ainda utilizava o desenho como parte da frase. Ele estava se referindo às tristezas).

b- A formação de frases:
-         se usa desenhos como parte da frase
-         se as frases mantém a mesma estrutura, variando apenas no final
-         se há sujeito e predicado
-         se utiliza palavras novas na construção das frases e a que categoria gramatical elas pertencem
-         se percebem quando cometem um erro.
-         se corrigem esse erro.
-         se apagam moderada ou excessivamente ou se não apagam, se rabiscam e escrevem na frento ou por cima.
-         se utilizam palavras de várias classes gramaticais



A letra é bem ruinzinha e bastante irregular. A foto também não ajudou. Mas, está escrito literalmente, conservando todas as incoerências da escrita no início do acompanhamento: "Eu me sinti muito feliz nesa ora e Eu gostei de vim na treça e eu pençava que iríamos vicar centados na cartera mas não foi que pencei”.

3- Sobre a produção de textos escritos:
iInicialmente, observamos os mesmos itens da história oral, para depois completarmos a observação com outros dados, tais como:
-         se é rica ou econômica em detalhes
-         se a linguagem é clara ou confusa
-         se repete as idéias ou se diversifica através de sinônimos
-         se as idèias fluem com facilidade ou é dificultosa
-         se aparecem descrições de personagens, lugares ou situações
-        se as frases são completas, amarradas umas às outras ou são “jogadas e fora de lugar”.
-         se há continuidade de pensamento ou idéias truncadas.
-         se há desvios (trocas, omissões, acréscimos, repetições) etc. 
-     se percebem quando cometem um erro.
-         se corrigem esse erro ou não.
-         se apagam moderada ou excessivamente ou não apagam, rabiscando por cima.
-          se utilizam palavras de várias classes gramaticais
-      se há um mínimo de organização estrutural do  texto (fazem parágrafos ou num bloco único)
-          se a história é criativa, original e interessante.

4-     Domínio das regras gramaticais:
-         se usam letras maiúsculas nos lugares certos.
-         se acentuam as palavras e pontuam as frases.
-         se fazem concordância nominal e verbal
-        a limpeza e a organização do trabalho.
-         se possuem autonomia ou se precisam de ajuda

Exemplicando, uma história contada e transcrita literalmente, conservados todos os erros que ainda restavam. A criança é a mesma do exemplo anterior, com um mês de acompanhamento:

“Um dia, vi raius muitu brilhantis. Paricia uma notícia vinda du céu. Eu, não intendia bem o qui istava acontecendu.  Mas, naqueli dia, minha cachorrinha deu cria pra uma purção de filhotis . Elis era lindus. Mas aí, a mãe dos cachorrinhos morreu e os filhotis ficaram sozinhos. Como elis era muitu piquenus e não pudia ficar sozinhus e foram dadus pra que as pessoas cuidassem. Gostu mais desse aqui (aponta o desenho). Eli foi dado pruma família cuidá. A família tratam eli bem. Dá comida... dá carinhu... ensina coisas ... Mais... u cachorrinhu quiria qui nada disso tivessi acontecidu. Eli gosta da família ondi istá”. Mais eli queria a mãe deli pur pertu".

5- A expressão:
-     as idéias são claras e facilmente compreensíveis ou confusas e de difícil compreensão.
-         a fluência ao escrever
-         cansam-se logo ou prolonga-se com interesse.
-        rica ou pobre em termos de linguagem.

Um comentário:

  1. Oi Sueli!!
    bom dia!!
    aproveito para parabenizá-la por seu blog. Acompanharei mais de pertinho agora! Foi bom conhecê-la e interagir antes de aprofundar no blog. Agora nos sabemos...rs
    Um grande abraço e fica aqui meu blog: http://projetoportatil.blogspot.com/

    (beijos na Carina), elaine

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