quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

FAZENDO ARTE III

COLAGEM COM TEXTURA

Quando digo que entrego um trabalho semipronto é assim: 


Isto porque, as crianças ou jovens com Paralisia Cerebral ou Deficientes  Intelectuais quando chegam para atendimento, eles não têm a menor ideia do que devem fazer no sentido de arte. O máximo que conseguem é colar aleatoriamente. Por isso, é importante que conheçam o "fazer artístico" aos poucos. Nestes trabalhos conversamos e procuro mostrar que, o que está atrás e preciso ser feito primeiro.

Neste trabalho, o que vem em último plano é a copa da árvore porque está mais atrás, mais longe. Reparem que o telhado da casa amarela ficou em cima da copa da árvore. Então espalho todas as peças sobre a mesa e ele vai escolhendo  e testando o que vai em cada espaço vazio.  Também expliquei a questão da luz, ou seja, onde bate o sol fica mais claro. E aqui reparem que as partes claras dos telhados estão voltadas para o sol.

Em segundo plano, vem a estrutura das casas. Supondo que pegue o telhado primeiro, pergunto se ele já viu uma casa ser construída. Se sim, por ele mesmo já solta a peça errada e pega a correta. Se não, pergunto o que ele faria primeiro: o telhado ou as paredes das casas. Ele pega e cola.

Em primeiro plano, o telhado. Ele cola e termina o trabalho. Então conversamos de novo sobre a imagem desenvolvida. Por exemplo: se a imagem é do campo ou da cidade, se as casas são ricas ou pobres, se elas são confortáveis ou não, etc. Depois de tudo isso, pode-se trabalhar a produção de texto com esta imagem.

 

Assim, além da Coordenação Motora Fina, trabalha-se uma infinidade de coisas: conhecimentos novos, noção de mundo, conceitos de arte, estética e o próprio fazer artístico.

E aí você deve estar se perguntando: E a criatividade dele? Para quem foi sempre considerado incapaz, embora a tenha, não foi desenvolvida a contento. Por isso, é preciso começar por algum lugar.

Um outro trabalho muito gostoso de fazer é a colagem com palitos de fósforo. O desenho é feito integralmente. Aqui o objetivo é ensinar a noção de contorno, coisa que tem muita dificuldade em entender o que seja. Como ele tem muita dificuldade motora, eu passo cola e ele cola os palitos.



Depois de pronto o trabalho, voltamos a conversar. Desta vez, trabalhando a imaginação. Pergunto onde essa casa fica, quem mora nela, se tem vizinhos por perto, como ela é por dentro (que cômodos ela tem) etc de acordo com as resposta. Depois, com todas essas informações, ele pode criar um texto oral, que eu escrevo porque ele não tem condições pelo menos por enquanto.

Nestas outras atividades, o objetivo é a resolução de problemas. Mas também trabalha-se o contorno.  Primeiro faço um risco qualquer numa folha. Corto um pedaço longo de barbante ou outro fio grosso qualquer e entrego a ele, pedindo que o cole sobre a linha. E, por conta de sua dificuldade, eu passo a cola e ele põe o fio.


Uma outra atividade que vem na sequencia  e com o mesmo objetivo da atividade anterior, a proposta é diferente. Entrego a folha e o fio (1,5 a 2 m) e peço para que o coloque inteiro sobre o papel e sem deixar sair para fora.

Ele demorou muito pensando em como resolver a questão. Pôs o fio esticado de várias formas possíveis, mas em todas, ficavam partes de fio para fora. Esticou novamente na vertical (e para isso teve que esticar o braço para o alto = exercício motor) e nada. Em determinado momento, já querendo desistir de tentar, enrolou o fio sendo ajudado pelo próprio corpo. Depois de enrolado, colocou sobre a folha. E eis o resultado:


continua na próxima postagem com outras atividades.

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