Os professores das primeiras séries do Ensino fundamental adoram ditados. Mas, para a criança, será que é bom?
A professora diz uma palavra e a criança deve ouvi-la, discriminar e diferenciar os sons auditivamente, associar tudo ao significado, associar á forma gráfica, , organizar mentalmente as sílabas numa seqüência lógica para compor a palavra, lembrar do traçado de cada símbolo e grafa-la devendo ainda respeitar a orientação espaço-temporal. E, tudo isto, numa época em que ela ainda está iniciando a aprendizagem da leitura.
Morais (1997) exemplifica da seguinte maneira:”Imaginem que nos fosse ditado a palavra “ENCILHAR “, palavra esta, que ouvimos pela primeira vez e nunca a vimos escrita em nenhum lugar, nem é do nosso uso cotidiano. Poderíamos, então, escrevê-la de várias maneiras: “ensilhar”, “encilar”, “ensiliar”, “enciliado”, “insiliar” etc.
Ah! Mas, isto é porque não conhecemos seu significado. – diria alguém. Muito bem. Encilhar é colocar arreios num animal. E agora, conhecendo seu significado, dá para escrever corretamente?
Com certeza, também não, porque as dúvidas ainda continuam, como por exemplo: é com “s” ou com “c”? É com “li”, “la”, “lia” ou “lha”?”
O mesmo acontece com as crianças. Antes de escrever uma palavra, as crianças também ficam em dúvida, Afinal, nosso alfabeto tem muitas letras com sons muito parecidos: “c/g/k”, “p/b”, “d/t”, “s/c/ ç/z”, “f/v” etc. E as crianças escrevem da forma que entendem. Morais chama a esta tentativa de “hipótese ortográfica”. Ou seja, por meio de experimentação. As vezes, dá certo. Mas, na maioria das vezes, não usam a(s) letra(s) correta(s).
Para que uma criança escreva corretamente não basta vê-la uma vez, nem tampouco saber seu significado. É preciso que ela consiga ler essa palavra. É por meio da leitura que nossa visão discrimina os sons, a forma da palavra, o nùmero de letras que ela possui, as silabas e letras isoladamente e as guarda na memória visual. Portanto, a escrita ortográficamente correta depende da leitura e não da memória.
Muito interessante... principalmente porque acabamos nos deparando com o ditado em nosso cotidiano escolar, por mais que poucos "confessem" seu uso.
ResponderExcluir