È comum ouvirmos as
seguintes frases: “Não faça isso porque o Papai do Céu não gosta”; “Criança
bonita não age desse jeito”; “Que coisa feia! Deixa o Papai do Céu muito triste”,
e muitas outras com o mesmo teor. Essas e outras frases estão baseadas nos
contos bíblicos.
Tanto os contos bíblicos
como os contos de fadas falam dos problemas existenciais humanos que são
universais. O que os diferencia é a sua orientação. Os primeiros possuem uma
orientação para o Divino. Os segundos para o relacionamento com outros seres
humanos. E não há nada de errado com esses contos como literatura, a não ser o
modo como nós, adultos, os utilizamos com relação às crianças.
Os contos bíblicos dizem “como o homem deve ser e viver para conquistar o direito de entrar no paraíso”. Nesses contos Deus pede aos homens que sejam bons, que respeitem o próximo, que controlem seus instintos negativos, seus sentimentos ruins e suas tendências inconscientes. Apesar de tudo, ainda será julgado para ver se pode (ou não) entrar no Céu.
Os contos bíblicos dizem “como o homem deve ser e viver para conquistar o direito de entrar no paraíso”. Nesses contos Deus pede aos homens que sejam bons, que respeitem o próximo, que controlem seus instintos negativos, seus sentimentos ruins e suas tendências inconscientes. Apesar de tudo, ainda será julgado para ver se pode (ou não) entrar no Céu.
Tudo isto fica muito
confuso para a criança, cujo pensamento é animista (que os objetos tem vida) ou, evoluindo um pouco, um
pensamento literal (acredita que se cumprirá o que foi dito). Além do mais,
quando utilizamos o pedido de Deus com a criança, o fazemos em tom de ameaça:
Deus não gosta, fica triste e te punirá.
Um outro ponto, é o que
Deus pede aos homens: sublimar desejos, tendências e instintos. Se a criança está
numa fase animista ou literal, será que ela compreende o que é ser bom? O que é
respeitar o próximo se ela ainda está na fase egocêntrica? Se a criança nem ao
menos se conhece, como poderá controlar seus pensamentos e ações no dia a dia?
Se os instintos humanos são inconscientes até mesmo para os adultos, será que a
criança entenderá esse pedido?
Evidentemente, concordo
que devemos educar a criança e repreendê-la quando faz algo que não está
correto. Mas, poderíamos deixar Deus de fora disso, pois em vez de mostrarmos um Deus de amor e bondade,
mostramos um Deus temperamental e vingativo que não a deixará entrar no Céu
porque, num determinado momento, não fez o que Ele pediu. Mas, naquele momento,
poderia estar incomodada com pensamentos de ciúmes, de raiva ou ódio por alguém
ou por alguma coisa e reagiu de acordo com seus sentimentos e emoção.
Tendo um pensamento animista ou literal, a criança acredita que realmente Deus ficou zangado, triste e que Ele não a acha bonita e boa. Este acreditar gera sentimentos de culpa, que é muito mais nocivo para sua vida do que sua reação momentânea.
Já os contos de fadas
trabalham as mesmas coisas e de uma forma que a criança compreende porque falam
a linguagem das crianças. Eles mostram o jeito correto de ser, de agir e pensar
dentro do pensamento religioso e sem que a culpa se instale. Por que não tê-los
como aliados na educação das crianças?
Não quero com isto dizer que não se deva dar um ensino religioso para as crianças. Ao contrário, acho até muito importante,
O que se pede é que se mude o discurso. Em vez de dizer que Deus não gosta, que
tal dizer que Deus quer que a criança seja cada vez melhor?
Leia os textos anteriores.
Fonte:
BETTELHEIM, Bruno. “A
Psicanálise dos Contos de Fadas”, Ed Paz e Terra,
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