Todo
mundo se preocupa com as dificuldades na leitura e na escrita e relegam as
dificuldades matemática a um segundo plano. Geralmente, são vistas
como algo passageiro, já que se tem um hábito cultural de se dizer que
esta disciplina é difícil e que, cedo ou tarde, todos esbarramos com uma
dificuldade qualquer. Já os professores costumam julgar a criança (ou jovem)
como preguiçoso, desatento e/ou desinteressado pela disciplina.
No
entanto, asseguro-lhes que não é assim tão fácil, nem tão simples. Ao
contrário, é muito mais desafiador encontrar os motivos que levam a ir bem ou
mal na matemática.
Assim
como na leitura e na escrita, as aprendizagens matemáticas também decorrem de
processos cognitivos que devem ser desenvolvidos em determinado período (dos 2
aos 6 anos de idade). Este é um período onde as competências e
habilidades começam a se desenvolver e dentre elas as competências e
habilidades matemáticas. Espera-se que as aprendizagens de noções consideradas
fundamentais (como as de quantidade, grandeza, extensão) sejam realizadas de
forma natural, ou seja, através do contato com os adultos, com o meio e motivadas
pela curiosidade infantil.
O
sucesso ou insucesso na relação com a matemática depende dessas aquisições e da
maneira como foram realizadas nesse período. Crianças que não foram estimuladas
ou não obtiveram sucesso nessas aprendizagens apresentam falhas em suas
competências e em suas habilidades para lidar com as questões matemáticas, o
que compromete a percepção, a linguagem, a escrita numérica, os cálculos, o
raciocínio e a resolução de problemas orais e escritos. Essas falhas se
traduzem numa inabilidade para desempenhar as tarefas escolares.
Essa
inabilidade pode se manifestar como um déficit de atenção em competências
conceituais (a criança não sabe explicar uma noção ou conceito) ou de procedimentos
(não sabe fazer, representar ou relacionar informações). Decorrem de uma imaturidade dos princípios de contagem que compromete todo o desenvolvimento dos conceitos e procedimentos que terá de lidar mais adiante na escola. E podem manifestar-se
como déficit de memorização, déficit visuoespacial, inabilidade de
processamento informativo, que segundo estudiosos, são os precursores básicos das
dificuldades matemáticas.
Os
processos matemáticos relacionados ás quantidades e seus símbolos numéricos são
fundamentalmente abstratos, o que exige uma boa dose de atenção, de abstração e
de raciocínio matemático. A consequência é o agravamento da situação quando a
escola adota métodos de ensino inadequados e na insistência em realizar cálculos
isolados, desfavorecendo o raciocínio.
Dificuldades
relacionadas ao armazenamento (memória de longo ou de curto prazos) e a recuperação
(lembrar, recordar) das informações fazem com que os alunos cometam mais erros
e apresentem maior lentidão que seus colegas sem dificuldades.
Outras
dificuldades são de origem visuoespacial da informação que alteram a conexão
entre a quantidade e os símbolos numéricos. A consequência é um conhecimento
numérico confuso (principalmente com números semelhante), desorganizada na direção
da escrita matemática e falhas nas tarefas sobre uma reta numerada.
Como
vimos, as dificuldades matemáticas não são homogêneas. Nem as crianças chegam á
escola com o mesmo nível de desenvolvimento porque cada qual está inserida num
ambiente cultural diferente uns dos outros. Diferentes também são suas oportunidades
de manusear, experimentar e se desenvolver como é esperado. As falhas e suas
consequências também devem ser levadas em conta.
Podemos
então dizer que as dificuldades matemáticas formam dois grupos distintos: a)
das dificuldades na leitura e na matemática e b) as dificuldades apenas em
matemática. Veremos cada uma delas em separado nas próximas postagens.
fonte:
MONTIEL,
José M. e CAPOVILLA, Fernando. “Atualizações
em transtornos de aprendizagem”. São Paulo, Artes Médicas, 2009.