As tabuadas merecem um
capítulo á parte. Todos sabemos que elas são importantes para a resolução dos
cálculos de multiplicação e da divisão e, para agilizar as tarefas. No entanto,
no Brasil e em alguns outros países ditos “mais modernos” proíbe-se que as
crianças as decore. Alguns teóricos justificam que é melhor “compreender” do
que “decorar”, pois isto é coisa do passado.
Concordo que as crianças
precisam compreender a razão da existência das tabuadas, ou seja, que devam
adquirir o pensamento multiplicativo. Mas sabemos que esse pensamento não acontece
de uma hora para outra e, nas últimas décadas, encontramos adolescentes que
chegam ao Ensino Médio sem sabê-las, incluindo-se a do dois.
Para aprender as tabuadas e as
relações entre elas não basta que o professor diga ou explique. É preciso que a
criança as descubra por si só. Porém, olhar as tabuadas desde a infância cria
por sua vez a “dependência do famoso livrinho de tabuadas” comprado por alguns
centavos na papelaria mais próxima.
Os teóricos dizem esta
dependência não ocorre, mas não é o que se vê na prática. Que o aprendizado do
pensamento multiplicativo deve ser conquistado com num contexto vivenciado
pelos educandos e que começa no início do Ensino Fundamental e só se completa
ao atingirem o pensamento formal, que segundo Piaget, ocorre por volta dos 10
ou 11 anos de idade. E não é isto que se vê.
Fui em busca de sugestões: A
primeira, encontrei numa tese de mestrado, que compartilha da ideia dos
teóricos sobre contextualizar o pensamento multiplicativo através de situações-problemas.
Tinham vários temas como: quantidades,
preços, rodas etc. Estas situações-problemas foram aplicadas em crianças dos 3º
e 4ºs anos de escolas públicas e particulares. Retirei de lá esta
situações-problemas, como exemplo:
a)
Numa viela haviam 5 casas. Em
cada casa moram 2 coelhos. Cada coelho vai ganhar duas cenouras. Calcule a
quantidade de cenouras que precisamos ter para que cada coelho ganhe duas cenouras?
Segundo a pesquisa, a autora
esperava que as crianças chegassem a conclusão de que 4 x 4 = 16. No entanto,
surpreendeu-se com a maioria que, após o desenho efeito, efetuou a contagem
para obter a resposta. E isto significava que as crianças não fizeram o
cálculo, nem o relacionaram com a operação de multiplicar. E portanto, ainda
não tinham conquistado o pensamento multiplicativo. Verifiquei por curiosidade
outros trabalhos de mestrado e TCCs de pós-graduações sobre o tema e as
conclusões foram idênticas. Não é no início da idade formal que o pensamento
multiplicativo começa ou nossas crianças não estão chegando a esse tipo de
pensamento.
Fui então em busca do que se
está fazendo hoje em dia nas escolas em geral. Pesquisei vários blogs de
professoras de vários estados brasileiros e achei algumas sugestões:
b) TABELAS MULTIPLICATIVAS
Os alunos preenchem os espaços em branco com os resultados da multiplicação de um número da coluna por todos os outros da linha. Podem ir completando aos poucos até ficar completa ou tudo de uma vez. Depois, quando precisar, é só consultar. Na verdade, é uma tabuada tradicional com uma cara nova. E um novo nome também: “tabela”.
Os alunos preenchem os espaços em branco com os resultados da multiplicação de um número da coluna por todos os outros da linha. Podem ir completando aos poucos até ficar completa ou tudo de uma vez. Depois, quando precisar, é só consultar. Na verdade, é uma tabuada tradicional com uma cara nova. E um novo nome também: “tabela”.
O ábaco é um excelente
auxiliar para contagens e dos primeiros cálculos. Usando o ábaco a criança
repete a mesma quantidade em um número de vezes determinado. Ao final, faz a
contagem e coloca a resposta.
Compõem-se de um tabuleiro com
determinado número de concavidades e dentro a criança coloca objetos pequenos
na quantidade pedida e num determinado número de vezes. Para saber o resultado,
é só contar as pecinhas colocadas.
e) TABUADA NOS DEDOS
É muito interessante este jogo feito com os dedos da mão. Na verdade, é mais um truque divertido para que acertem as contas.
É muito interessante este jogo feito com os dedos da mão. Na verdade, é mais um truque divertido para que acertem as contas.
Na tela aparece um cálculo a
ser realizado e embaixo três respostas, sendo uma única a correta. Para mudar
para outro cálculo basta acertar a resposta. Caso erre, volta ao início. Esta é
uma aprendizagem por ensaio e erro e que a criança vai passando de fase porque
decora as respostas corretas.
Pelo que vi estas sugestões
são estratégias que, numa forma discreta ou bem mais prazerosa, visam a “decoração”
das tabuadas. E onde fica o pensamento multiplicativo?
Acredito que ninguém precise
ficar com vergonha ou se ser chamado de retrógrada se pedirmos que as crianças
estudem e saibam as tabuadas. E já que a maioria dos brasileiros adoram coisas
de fora do país, é bom saber que na maioria dos países europeus se cobra as
tabuadas decoradas. E que, esses mesmos países, ocupam os primeiros lugares no
Ranking Mundial da Educação, enquanto nós, com ideias mais “modernas e
avançadas”, estamos em septuagésimo oitavo lugar (78º) lugar. Não é “estranha”
essa colocação?
Compreendendo ou decorando as
tabuadas, cognitivamente elas fazem parte das funções executivas cerebrais e
localizadas no lobo frontal, do mesmo modo como adições, subtrações,
multiplicações e divisões. São elas que acionam outras áreas cerebrais (já
vistas em postagens anteriores) permitindo que possamos realizar os cálculos
além da memória curta e de longo prazo. Seja lá como for, a criança adquire o pensamento multiplicativo no desenrolar do período formal e não no início dele.