As
contagens formam a base para a aquisição da habilidade de calcular. É uma
tarefa bem mais complexa do que contar e precisa utilizar mais funções
cerebrais além das usadas nas contagens, como por exemplo, a participação do
córtex pré-frontal do hemisfério cerebral dominante durante os cálculos.
Para
calcular é básico e necessário o conhecimento da escrita simbólica das
quantidades, assim como da compreensão do raciocínio sintático (escrita por
extenso) dessas quantidades e dos números. Exemplificando, a criança que “7 e sete”,
que “25 e vinte e cinco”, que “148 e cento e quarenta e oito” são
representações das quantidades citadas. Valem, portanto, todas as estratégias didáticas para conseguir que as crianças consigam aprendê-la.
Cálculos de adição simples como estes são comuns na escola. Para sua realização, a criança precisa de:
a) de uma
boa percepção e de um perfeito processamento (verbal e/ou simbólico) da informação para o entendimento o que
deverá ser feito;
b) de um sistema
operador de números que identifique, analise, reconheça e produza os
números mentalmente;
c) de um sistema de
representação de números/símbolos para que possa ler e escrever os números;
d) da discriminação viso-espacial, do raciocínio sintático e da memória de
longo prazo para lembrar os números, algarismos, e a noção dos agrupamentos, de
linha e coluna para “armar ou montar na vertical” as operações de maneira
adequada;
e) de um sistema operador de
cálculos que envolve a memória de curto prazo ou operacional e da memória
de longo prazo onde buscam os procedimentos de execução da tarefa (como fazer),
da atenção e da concentração, dos sistemas de contagens;
f) de um sistema de
resultados e do raciocínio sintático que acionam inúmeros nervos,
músculos e ossos para a escrita do resultado da operação.
Às
operações com reservas (as do famoso “vai um”) são retomadas algumas funções
cerebrais que, novamente entram em jogo: as usadas nas contagens numéricas
(simbólicas e verbais) para saber qual algarismo fica na ordem somada e qual
algarismo passa para a ordem seguinte; a compreensão dos agrupamentos
(centenas, dezenas e unidades) para fazer a separação e a memória de curto
prazo para lembrar e de inclui-los na soma dos algarismos da ordem seguinte.
Também valem todas as estratégias didáticas que chamem a atenção das crianças para a posição dos algarismos em linhas e colunas (números coloridos, jogos, uso do ábaco, roleta de números, bingos) para que as crianças entendam a questão das reservas. Aliar a matemática com o prazer do jogo torna tudo mais fácil. Para os pequenos das séries iniciais jogos e materiais concretos facilitam as aprendizagens. Para os maiores (3º, 4º e 5ºs anos), jogos de competição é uma boa pedida.
Para
a realização das operações de subtração simples, por estarem fortemente baseada
numa representação quantitativa, o aprendizado verbal não tem muita utilidade e
as funções cerebrais para isto são desativadas. No entanto, entram em jogo as
percepções visuais no reconhecimento do código arábico e na representação
espacial na disposição de cada quantidade e no alinhamento dos algarismos.
Entram também, as lembranças de algumas noções básicas como a da quantidade
maior e menor; para colocar a quantidade maior acima da menor, portanto funções
da memória de longo prazo. E todas as funções de processamento da informação,
da representação, do sistema operador de cálculos, do sistema de resultados e
do raciocínio sintático para a leitura desse resultado.
Já
para as operações de subtração com recurso (as do “empresta”), além de todas as
funções citadas, são usadas também as funções cerebrais ligadas aos agrupamentos,
transformações de uma quantidade na outra, lembrar que aquele que “empresta”
fica sempre com menos do que tinha.
Assim,
o sucesso dos alunos nos cálculos depende do perfeito desempenho de cada função
e de cada processo cerebrais. Já o fracasso indica um mau rendimento dessas
funções e processos. As causas variam. Pode ser neurológicas, do
desenvolvimento, do ambiente e emocionais.
As
causas neurológicas e do desenvolvimento são mais graves, persistentes e sua
correção depende do tipo de transtorno (lesões, traumatismos, afasias), como a
deficiência intelectual em geral e o autismo. Requerem constantes recomeços e
muita repetição para que consigam diminuir os efeitos desses transtornos.
As
causas ambientais e emocionais dependem da estimulação recebida na família e na
escola. Crianças muito tímidas, que falam pouco ou por monossílabos (sim, não,
é, não é, ...) e que apresenta tendência ao isolamento possuem mais dificuldade
de entendimento das questões matemáticas que seus companheiros de turma. Já os
superprotegidos encontram mais dificuldade na subtração do que na adição pelas
próprias condições de criação familiar (tem tudo o que quer, só ganha e não perde
nunca).
Continuamos
na próxima postagem. Até lá.