Tentando conseguir inspiração para o post de hoje, lembrei dos meus tempos de menina, quando já possuía alguns conhecimentos das letras do alfabeto e iniciava o desenvolvimento da leitura. Por meio dessas lembranças, revivi os procedimentos que minhas professoras do 2ª ao 4º anos utilizavam.
Os procedimentos eram os seguintes:
a) A professora pedia que lêssemos um texto novo, individual e silenciosamente, para tomarmos ciência do que se tratava.
b) Orientado por ela, sublinhávamos as palavras desconhecidas. Depois, dizíamos as palavras que eram colocadas na lousa, explicadas em seus significados e anotávamos tudo no caderno.
c) Trabalhávamos essas palavras em outras frases e em outros textos menores, bem como seus sinônimos e antônimos (quando possuíam), nos dias posteriores.
d) No dia seguinte, ouviámos a leitura oral da professora. Em casa, tentávamos imitá-la, numa espécie de ensaio para quando chegasse a nossa vez de ler perante a professora e colegas. Queríamos fazer bonito.
e) Diariamente, a professora nos chamava à sua mesa para a leitura oral de uma frase, de um texto curto ou de um parágrafo de um texto mais longo. Mas, nunca éramos chamados na mesma ordem ou por fileira. Por isso, estudávamos o texto em casa. Lembro de alguns comentários que elas faziam nessas ocasiões: “Aqui tem ponto final. Faça uma pausa maior.” ou “Aqui é uma pergunta, leia novamente fazendo uma pergunta”.
f) Depois, de ter lido o texto várias vezes, era chegado o momento da leitura oral na classe. Sentia um friozinho na barriga, mas fazia o meu melhor. Era sempre muito bom ouvir os elogios da professora quando líamos corretamente. E quando não o fazíamos dessa maneira, elas nos chamava de volta à sua mesa e mostrava onde havíamos falhado. Se errávamos trocando uma palavra por outra ou com a acentuação errada por ser uma palavra nova, não havia gozações dos colegas, pois todos estavam aprendendo e elas deixavam isto muito claro.
g) Para o trabalho de compreensão do texto, a professora fazia perguntas orais sobre ele e pedia para encontrarmos onde estava escrita a resposta. Lembro que disputávamos quem acharia a resposta primeiro.
i) Num outro dia, pedia que disséssemos os fatos importantes do texto, anotando de forma esquemática e marcando a seqüência de idéias: começo, meio e fim. Ela anotava na lousa para que copiássemos. Com essas idéias na lousa, pedia que dois ou três alunos (nunca os mesmos) fizessem oralmente a reconstrução do texto.
k) Só então, passavam algumas questões sobre o texto na lousa para respondermos na sala de aula ou na lição de casa. E ficava muito zangada quando a resposta não era completa. Outras vezes, pedia a reprodução da história, por escrito.
l) Para generalizar e ampliar nossos conhecimentos sobre o tema do texto, sugeria que o modificássemos, usando um outro contexto. Por exemplo, se a história ocorria com um menino que brincava com determinados brinquedos, ela sugeria que fosse uma menina ou alguns meninos. Ou, ainda, sugeria uma outra situação: o menino ficara doente, ia a um passeio, ia à praia etc.
m) Por fim, davam as explicações sobre as regras gramaticais e seu uso na escrita, como padrão culto.
Estes mesmos procedimentos não ficavam apenas restritos ao ensino da língua, mas também eram aplicados a outras disciplinas, como no estudo de História, de Geografia e de Ciências. O que nos faz perceber que esses procedimentos eram utilizados por todas as professoras e em todas as séries, por fazerem parte de uma metodologia de ensino e desenvolvimento do processo de leitura.
Embora o ensino daquela época fosse o chamado “ensino tradicional”, nem por isso fiquei traumatizada por aprender dessa forma. Ao contrário, me tornei leitora assídua e com grande prazer pela leitura.
Notem que, naquele tempo, não se ouvia falar das teorias de Piaget, Vigotsky, Ausubel, Emília Ferrero ou outros tantos desenvolvimentistas. Muito menos, se falava em psiconeurologia (que é coisa recentíssima). Mas, pode-se notar que esses procedimentos respeitavam o desenvolvimento infantil e estavam de acordo com os processos cognitivos ditados pela psiconeurologia.
Diante dessas lembranças, me pergunto: “Onde foi parar aquela metodologia?”. A modernidade “acabou” com o ensino tradicional (pelo menos, teoricamente) e impôs novidades que, em vez de melhorar o ensino e a leitura, tornou tudo muito pior.
Não sou saudosista, não. Acho que o ensino tradicional tinha algumas coisas que precisavam ser mudadas e, graças a Deus, foram mudadas (também, teoricamente). Mas, houve um amontoado de novidades (cujas bases não foram esclarecidas) que fizeram da Educação o caos que vivenciamos hoje.
Hoje, infelizmente, somos um povo que lê por necessidade: para fazer trabalhos escolares ou provas, para assinar um contrato, para preencher algum documento etc. Muitos encontram dificuldades até nisto. Isto porque poucos sentem o real prazer de ler, porque a escola tem negligenciado a leitura. Deixo então uma questão que precisa ser discutida: Será que o que era feito no passado era tão ruim que não possa ser aplicado novamente em nossas escolas? Ou será que as professoras do passado faziam "mágica"?
A didática utilizada no passado era eficaz e os professores que a utilizava fazia sim com que seus alunos apreendessem o conteúdo. A falta de pudor em sala de aula e muitos direitos dados pelo ministério público aos alunos fezeram da escola o fracasso que aí está.
ResponderExcluirConcordo com a metodologia usada por sua professora. Isso realmente funciona, porém com números de alunos reduzidos, falo isso porque sou professora de Língua Portuguesa e trabalho em numa escola pública, contudo essa método pode sim funcionar hoje, mas com um detalhe que as salas de aulas não tenha mais de 30 ou 50 alunos. Essa é a nossa realidade. Como eu vou trabalhar e dá conta de tantos alunos, fora a indisciplina e falta de respeito que a maioria não tem pelo professor[...] Eu creio que todos: Sociedade, governo, família, escola precisam valorizar a educação, pois só assim haverá mudanças!!!
ResponderExcluir