Ler e escrever é uma tarefa complicada para os alunos com
Paralisia Cerebral Moderada, porque eles apresentam graves problemas motores e,
a maioria deles apresenta baixa visão. E para iniciar um trabalho com esses
alunos é necessário conhecer o que eles sabem e de que maneira conseguem a
escrita.
Na avaliação pedagógica ou dos conteúdos escolares que conhecem, a
primeira coisa que peço é que retirem da caixa do Alfabeto Móvel somente as
letras que conhecem bem.
Para quem não possui um alfabeto móvel fica a dica: vocês podem
cortar cartões e escrever as letras (bem grandes e escuras) ou colá-las de
jornal ou revista. O garoto com quem trabalho retirou apenas estas letras.
O que me leva a acreditar que não sabe todas.
Aproveito a ocasião para saber se eles conhecem mesmo ou se
tiraram aleatoriamente. Se ele disser o nome correto das letras retiradas me dá
a certeza de que ele sabe. O contrário também é verdadeiro.
Pergunto também se eles sabem escrever o nome deles. O garoto
escreveu seu nome assim:
Como se pode verificar, é quase irreconhecível a forma como ele
escreveu o próprio nome. Essa forma mostra a gravidade do problema motor, me
mostra se é destro ou canhoto, a mão ativa e a inativa, a forma como segura o
lápis, giz de cera ou canetinha. Verifico se ele usa a mão oposta para segurar
a folha ou o caderno ou se eu tenho que suprir a falta de uso da mão inativa.
Observo também se ele abaixa muito a cabeça ou se leva o caderno até o rosto
para poder enxergar melhor. E isto nos dá a noção da baixa visão.
A partir de então, começo o trabalho de alfabetização apresentando
as vogais maiúsculas e minúsculas para que ele vá se habituando com a forma e
ir fixando essas letras.
Com o alfabeto móvel vamos montando pares com as vogais. Primeiro
me diz o nome da vogal mostrada ( A) e da outra (I) e depois “deixando bem
pertinho uma da outra, fica “AI”, o que
dizemos quando machucamos o dedo (e mostro a figura).
E assim, brincando de juntar letrinhas, vou apresentando alguns
monissílabos mais comuns e ligando sempre com as vivências da criança ou jovem.
E faço isso da seguinte forma: o que você diz quando fala de você mesmo? E + U
fica EU. E quando você vê um amigo, o que você diz? O + I fica OI. E quando
você se machuca, o que você diz? A + I fica AI. E assim por diante.
Depois mostro como ficam essas palavrinhas com as letras
minúsculas. Aproveito também para ilustrar e tornar mais concreto o aprendizado,
a colagem dessas palavrinhas. Espalho sobre a mesa ou caderno os monossílabos e
repito as perguntas mostrando as figuras. Ou então leio os monossílabos e ele
mostra perto de qual figura ele deve colar as palavrinhas.
FIXANDO AS VOGAIS
Com o desenho de um vidro, lata ou cofre fazemos uma colagem para “guardar”
as vogais. E a criança cola como ela
quiser. O vidro simboliza a mente ou a intelectualidade onde tudo deve ser "guardado", ou seja, memorizado.
AVALIANDO OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS
Peço também que me mostre que números conhecem. E para isso,
espalho sobre a cartões com números de 1 a 10 e peço que eles retirem os que
conhecem. O garoto tirou todos os cartões. Então, coloco todos de volta na mesa
e peço que aponte os eu pedir. Por exemplo: 3, 9, 5, 1, 8, 2, 6 etc. Assim eu
sei se ele realmente sabe ou não. E se errarem ou confundirem também fico
sabendo por onde começo a trabalhar com eles.
Depois mostro um desenho com uma parte numerada de 1 a 10. E peço
para unir os pontos, com uma condição: falar o nome do número que estiver perto
de cada bolinha.
Depois disso, e com a certeza que ele sabe e reconhece cada nºde 1
a 10, vamos verificar a contagem. Estas vão com maiores quantidades porque
tinha certeza que ele sabia. Caso não saibam, comece com quantidades menores. O garoto contou sozinho e não errou na contagem. Ele também apontou o número correto. depois foi só colar.
Como ainda sobra tempo, aproveito para observar outras coisas que
ele sabe e pode fazer, como por exemplo, montar um quebra cabeça com apoio
visual.
O
objetivo deste jogo era saber se consegue perceber as posições e os lugares das
peças. Percebo que a criança em questão consegue pegar materiais finos como o
papel usando os dedos, polegar e indicador, em pinça. No entanto, encontra dificuldade
em retirar as peças da mesa e precisa de ajuda.
Posso também pedir que monte uma torre de encaixes para observar
como ele a faz (aleatoriamente ou com uma sequência de cor ou de forma). Como
esta, por exemplo:
O
objetivo desta atividade foi observar a mobilidade do braço ativo. O garoto em
questão consegue erguer o braço direito até uma altura de uns 30 cm com
facilidade. A torre foi erguida sem qualquer critério de forma ou de cor,
portanto, colocando as peças aleatoriamente.
Eu quis saber se ele consegue ligar um elemento com outro a uma distância regular.
O exercício mostra também que ele é capaz de observar alguns detalhes, fato que amplia as chances de trabalho com ele.
Diante
de algumas possibilidades de trabalho mostradas neste momento de avaliação, já posso dar início à alfabetização da Lingua Portuguesa e da matemática. Dá para trabalhar a leitura e o conhecimento das letras e suas junções enquanto nos preparamos para a forma escrita, que será da forma como ele puder fazer. Neste primeiro momento, será realizada por meio da colagem das palavras e ligamentos quando necessário.
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