sábado, 3 de dezembro de 2011

A ESTRUTURAÇÃO TEMPORAL

Os homens e tempo convivem em íntima relação. O termo “tempo” não se refere às horas ou ao calendário. mas, aos momentos de mudança nos acontecimentos.

Engajados no tempo, os homens nascem, crescem e morrem. E as atividades praticadas ao longo da vida são uma sucessão de mudanças.

À noite dormimos e durante o dia nos mantemos acordados e em atividade. O sono ou a vigília depende de uma necessidade biológica e pelo hábito. Ao contrario do espaço, da velocidade, das ações e dos movimentos que são facilmente percebidos, o tempo (desta forma) passa despercebido. Por esta razão, a criança tem que construir o tempo a seu modo e com os recursos que possui, Assim, é comum ouvirmos as crianças pequenas dizerem: “Ontem eu vou ao cinema.” ou “ Amanhâ eu fui na casa da vovó.”

As crianças pequenas vivem e agem no presente. Por não conseguirem ir além do vivenciam, o conceito de passado se mistura ao presente e o futuro é um acontecimento vago e indefinido porque ainda não conseguem perceber que os fatos se sucedem num determinado tempo.

Perceber a seqüência do tempo e a sucessão dos fatos exige um grande esforço mental por parte da criança. E este esforço leva algum tempo até que haja um avanço cognitivo.

Compreender e estruturar  o tempo é um processo. E como tal, se dá por etapas.Inicial-mente, as crianças estão preocupadas em conhecer o próprio corpo e as possibilidades de movimentos e ações que ele lhe oferece. Este conhecimento do corpo não se desliga do espaço externo, nem do tempo.

As percepções das crianças vão acontecendo aos poucos. Assimilam e associam os gestos e movimentos corporais ao espaço e ao tempo, juntamente com conceitos e noções de velocidade, de duração dos movimentos, de ordem, de sucessão e  de alternância entre os objetos e as próprias ações. Aos poucos, também percebem a noção de momentos do tempo, como o do instante, do momento exato, da simultaneidade, da sucessão. A partir daí passam a organizá-las e a coordenar as relações com o tempo.

A representação mental de tempo e de suas relações ocorrem bem mais tarde, quando as crianças (por volta dos 5 anos) se tornam capazes de trabalhar com o simbólico,  quando então, poderão realizar novas associações e transposições necessárias para o aprendizado das disciplinas e para a realização das tarefas escolares.

Para que as crianças possam aprender a ler, a escrever e a realizar os cálculos matemáticos  é necessário que tenham compreendido que as palavras e os números são uma sucessão, As primeiras de sons; os segundos, de quantidades. Devem ter aprendido ainda a reconhecer cada som, sua freqüência e duração. Ter percebido o ritmo e a melodia existente nas palavras e frases. Ter desenvolvido a capacidade de diferenciá-los e de memorizá-los auditiva-mente. Por isso, linguagem e tempo estão intrinsecamente relacionados

Fonte:
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico, Petrópolis, RJ, Ed. Vozes, 1991

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

CONTOS DE FADAS - MAGIA E ENCANTAMENTO

Quem ainda não presenciou uma criança pedir licença a uma cadeira ou outro objeto qualquer para poder passar de um lado para outro? Quem nunca observou uma menina brincar com sua boneca e tratá-la como gente?

Pois é, as crianças (dos 3 aos 5 anos) pensam que os objetos possuem vida. Isto porque seu pensamento é animista, ou seja, animais, plantas e objetos sentem, pensam e falam como pessoas.

Os adultos, inconformados com essa atitude das crianças e  acreditando que devam mostrar a realidade das coisas, perdem longo tempo com explicações, porque este é o tipo de seu pensamento: racional. Mas, apesar de todas as explicações que lhes são fornecidas, as crianças não compreendem e não acreditam porque o pensamento racional dos adultos as deixam confusas.

No pensamento animista, príncipes e princesas serem transformados em animais ou pedras é natural, já que estas coisas falam, pensam e agem como uma pessoa qualquer.

A linguagem dos contos de fadas está de acordo com o pensamento animista e a mesma visão de mundo da criança. E, por isso, elas confiam mais nos contos do que nas explicações dos adultos.

Por outro lado, são as transformações mágicas que ocorrem nos contos de fadas que respondem às dúvidas das crianças. E isso lhes dá segurança porque as crianças compreendem essas transformações com algo natural.

Tirar as fantasias das crianças e mostrar a realidade nua e crua antes que ela atinja um pensamento mais racional é trazer problemas emocionais como os de baixa auto-estima, de autoconfiança, de se sentir impedida de criar e de imaginar. Esses problemas refletirão mais tarde, quando entrarem na escola, onde terão enorme dificuldade na compreensão da leitura e nas produções de textos. 

Fonte:
BETTELHEIM, Bruno. “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, Ed Paz e Terra,