sábado, 25 de fevereiro de 2012

ALFABETIZAÇÃO DE DEFICIENTES INTELECTUAIS


Como prometi, vamos voltar a falar de alfabetização. Mas, com um olhar diferente do vínhamos discorrendo até aqui. Isto porque tenho notado uma grande preocupação por parte dos professores que acessam este blog em busca de idéias para trabalhar com deficientes intelectuais.

Como vocês sabem, não há livros, cursos ou outro meio qualquer que diga “faça assim” ou “faça deste jeito”. Da mesma forma que não existe uma pedagogia ou uma didática que trate específicamente desta turminha tão especial. Isto porque “não existem” receitas prontas e cada caso é um caso. E quando se trata de alfabetização especial, todo mundo fica apavorado e não sabe por onde começar. 

As orientações contidas abaixo do título deste blog são ainda muito gerais. O que posso fazer é passar minha experiência pessoal a vocês. Mas, alguém pode ainda questionar: “E os outros como ficam”?

Maria Montessori afirmava que “todos os resultados do trabalho com deficientes intelectuais beneficiavam as crianças sem deficiência”. Tudo o que se faz em termos pedagógicos foram e continuam sendo tentativas de trabalho com os deficientes. Portanto, se os deficientes progridem em seus conhecimentos com esses trabalhos, o mesmo se dará com os não deficientes. 

O que passo a postar aqui fica como sugestão, Sei que todos vocês são criativos e com pequenos ajustes poderão encontrar bom uso para elas, Seja no trabalho com deficientes, ou seja no trabalho com aquelas crianças a quem chamamos de “fraquinhos”, de “lentos” ou dos que apresentam outras dificuldades.

DICAS IMPORTANTES:

1- Coloque o deficiente próximo de você, professor (a). Eles precisam mais ajuda que os outros pelo fato de serem mais dependentes e de terem mesmo, mais dificuldades. A maioria dos professores faz o contrario e os deixam longe de si ou no fundo da sala, revelando atitude preconceituosa contra essa criança.

2- Sempre passe a atividade para os deficientes antes de cuidar dos outros. Isto porque eles são mais lentos e levarão mais tempo para realizar a  tarefa pedida. Mesmo que terminem antes do previsto, não incomodarão nem atrapalharão o seu trabalho com os demais.

3- Todo deficiente intelectual tem fases de franco progresso e fases que parece que desaprendeu tudo. Não desista e acredite no seu trabalho e no potencial dessa criança.

4- Alguns deficientes intelectuais (mentais ou cognitivos, como queiram) chegam à Escola com carência ou privação cultural, baixa auto-estima e autoconfiança, totalmente dependentes e sem nenhuma iniciativa. Possuem um histórico de rejeição. São defensivos por conta da discriminação que sempre sofreram e por serem vistos, repetidamente. como “incapazes” seja pela sociedade, pela própria família ou pela escola.

5- Já vou avisando: “O trabalho é árduo. Exige muita paciência, perseverança e  tempo adicional para confecção de materiais apropriados”. Mas, os resultados são surpreendentes  e recompensadores a longo prazo. Cada professor trabalha um pouco com  esta criança e ela retribui com esforço, dedicação e superação de seus próprios limites. Portanto, jamais os compare com outras crianças, nem mesmo com outros deficientes. Não exija deles algo que não podem oferecer. Ser deficiente não é doença, mas um estado, Um estado do qual não tiveram outra opção.

Estas dicas valem para qualquer síndrome da deficiência intelectual e para os diferentes graus de  retardo.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

NEUROFISIOLOGIA DO APRENDER



Desde o inicio deste blog, sempre falamos em aprender, em ensinar e do que é necessário para que isso aconteça. Mas, antes de falarmos novamente sobre alfabetização é preciso  entender o que é "aprender". Por acaso, alguém já tentou definir o que é “aprender”? 

Muitos dirão que é saber  ou conhecer (palavra da moda) o que se desconhece. E é verdade, porém, não é só isso. Segundo a Psiconeurologia, aprender significa “criar dendritos nos neurônios cerebrais”, razão pela qual o construtivismo afirma que “construímos nosso conhecimento”.

Relembrando: Os neurônios são o nome genérico de todas as células e, portanto, pequenas partes vivas existentes em nosso corpo. Todas as células corporais são neurônios e todas elas se apresentam com tipos, formas e especialidades diferentes e próprias de cada tecido a ser formado. Assim, esses neurônios formam os órgãos, os ossos, os músculos e as cartilagens, incluindo todo o Sistema Nervoso e o encéfalo. Mas, os neurônios cerebrais são “especialmente especiais”.

Os  neurônios cerebrais com sua forma estrelada se diferencia de todos os outros. Sua função é múltipla e complexa:  receber informações do ambiente, entendê-las, organizar essas informações, planejar respostas motoras, preparar os órgãos para as ações motoras,  enviar respostas, executar as ações e controlar todas as seqüências da ação para que tudo saia como fora planejado. Já não bastassem todas essas funções, eles ainda controlam todos os órgãos e todas as suas funções ao mesmo tempo, incluindo as do próprio cérebro. Depois, da ação concluída, tudo é arquivado na memória para ser utilizado numa outra ocasião semelhante.

Para realizar sua função, os neurônios precisam estar em constante comunicação uns com os outros formando uma intrincada rede. Graças á plasticidade cerebral esta comunicação é possível, mesmo quando um neurônio morre ou fica impossibilitado de cumprir o seu papel, como vimos na postagem anterior.

Quando nos deparamos com algo novo e o estímulo chega ao cérebro, os neurônios buscam na memória algo que seja similar. Se encontram, fazem brotar na periferia do corpo celular um pequeno botão dendrítico. Esse botão cresce a cada nova informação que chega. Porém, se não receberem mais informações, o botão dendrítico atrofia. Éra sobre os dendritos dos neurônios cerebrais que Piaget se referiu, quando em sua teoria,  às “estruturas mentais”.

 O trabalho dos neurónios pode ser comparado  a montagem de uma torre. 



A montagem da torre é o estímulo. As percepções que fazemos ao montá-la é o que Piaget chamou de "assimilação". mas, a assimilação nem sempre está completa, Ao montar a torre, podemos encontrar mais facilidades ou mais dificuldades devido ás experiencias, vivencias, saberes e conhecimentos anteriores.

Depois de pronta a torre, alguém nos traz uma nova peça que precisa ser colocada. O que fazemos? Para que a torre tenha uma sequencia lógica a desmanchamos no todo ou em parte dependendo da localização da peca. Colocamos a peça nova e recolocamos todas as outras. (Piaget chamou a isto de "acomodação"). A colocação dessa nova informação, desestrutura tudo. É comum dizermos que "sabíamos e que agora tudo está confuso". Enfim, a torre fica pronta (é a equilibração). Mas, essa equilibração não dura para sempre. Ela dura até que chegue outra informação nova ou complementar.

Como vocês podem perceber, aprender demanda um certo tempo, e não é instantãneo nem mesmo para o mais inteligente da sala. 

Muitos pais e professores ensinam algo para as crianças e já querem que elas façam tudo perfeitamente. Para cumprir o programa, os professores terminam a explicação de um conteúdo para cobrar a aprendizagem dos alunos em prova de memorização no dia seguinte. E ainda reclamam que os alunos não aprenderam ou que erraram a “fácil” questão. Mas, isto é uma sandice, pois é neurofisiologicamente impossível. Os alunos precisam de um tempo para assimilar, acomodar e equilibrar,  por mais rápido que seja o trabalho cerebral.

Além das vivências e experiências dos alunos, das percepções sensoriais, tem também a importância do ambiente. Ambientes ricos em estímulos e oportunidades fazem com que os dendritos despontem e se ramifiquem. 

Ambientes pobres e de poucas oportunidades não desenvolvem os dendritos. E ficam assim


Embora não os vejamos, podemos perceber seus efeitos: falta de iniciativa, demora em aprender,