terça-feira, 17 de março de 2020

Conversa 13 (4) – OS PAIS PODEM AJUDAR?

Sim, os pais podem e devem ajudar a cuidar para que seus filhos passem pelas fases de medo de forma saudável. Tirar o medo completamente, já vimos que não é saudável e não pode acontecer.

Assim, você detectou que seu filho tem um medo. E o que fazer?

1- Qualquer medo imaginário que seu filho possa vir a ter, nunca diga que é “bobagem”. Isso não resolve porque as crianças misturam realidade e imaginação e não compreendem o que você está dizendo.

Se seu filho disse que tem medo de algo, abrace-o e deixe-o falar sobre o medo que sente. Diga que vai ajudá-lo a mandar embora esse “monstro, fantasma ou outro qualquer”. Mas, que para isso você precisa saber como ele é, como vê-lo numa fotografia. Para isso, peça que ele desenhe para que você o conheça. Segundo Violet Oaklander, “enquanto a criança desenha o que o aterroriza, a figura sai do imaginário e se torna concreta, ou seja, uma figura observável todos”. Nesse momento, a figura imaginada perde força e não se torna tão ameaçadora. 


E enquanto a criança desenha, procure um envelope e durex (ou outra fita colante) e reserve. Se não tiver, ou não encontrar de imediato faça um com uma folha de sulfite ou qualquer papel que tenha a mão. É sobrar e colar as laterais, deixando uma parte em cima para virar e fechar. Nada complicado.

Quando tiver terminado (e não devemos apressá-la) pergunte se ela tem mais alguma coisa a dizer sobre a figura desenhada. Se tiver, ouça com atenção. Se não tiver, observe a imagem desenhada e diga que: “agora ele (a figura) terá que se haver com você”. Dobre o papel desenhado, coloque-o dentro do envelope, feche com cola ou fita adesiva à vista da criança. Mostre a ela que aquela figura está presa dentro do envelope e que você a domina e, portanto, não mais a incomodará. Segundo Oaklander, quando o adulto entra no mundo imaginário da criança, esta passa a confiar e acreditar mais nesse adulto. A criança se sente mais acolhida, protegida e em segurança. E perde o medo daquela figura. Mas a imaginação da criança é fértil, e dependendo da situação, imaginará outro algum tempo depois. Repita a operação.

Caso queira, arranje uma caixa de sapato e guarde todos os medos da criança lá dentro. Se quiser, faça uma decoração agradável, mas a criança não precisa saber disso. Eu fiz isso com alguns pimpolhos que eu atendia e deu muito certo.


2- Não “ridicularize” seu filho por sentir medo. Não faça piadas, nem o chame de medroso e guarde “segredo” deles. Jamais o chame de “covarde” ou algo do tipo, e não permita que outros o façam. Não se esqueça que os sentimentos da criança são intensos e legítimos. Devem ser aceitos, compreendidos e respeitados. Se fizer piadinhas ou espalhar seus “segredinhos” se sentirá enganada e perderá a confiança.

3- Medos reais são tão comuns quanto os imaginários. Muitos pais decidem “mudar de casa” ou “transferir os filhos de escola” sem preparar as crianças com antecedência. E o maior medo da criança é o de perder os amigos da vizinhança ou da classe. E os pais podem ajudar muito.

O que leva uma família a tomar a decisão de mudar de residência? Os motivos são variados: compra de uma nova casa ou apartamento, fim do contrato de locação, condições financeiras, mudança do local de trabalho, segurança do bairro e muitos outros. Por isso, antes mesmo de tomarem a decisão a decisão final devem expor aos filhos, os motivos reais e pedir a opinião dos filhos. E deixar claro que poderão (ou não) terem que deixar a escola que frequentam. Isto dará tempo para que as crianças se adaptem com a ideia e se preparem para quando acontecer.

Nestas circunstâncias, normalmente os maiores de 10 anos e adolescentes entendem melhor a situação e já possuem estratégias para manterem contato com os amigos. Os de 2 a 6 anos não tem ainda compreensão do que acontece e as amizades ainda não exercem tanta importância. O problema do medo reside entre os que estão entre os de 6 aos 8-9 anos, porque já vivem em grupo e fazem amigos na vizinhança e na escola. 

Conhecer e visitar o novo local de moradia é uma boa. Mostre as redondezas, a escola onde (todos ou cada um) devem estudar. Mostre o que há de interessante nas proximidades como parques, museus, shopping, praças, biblioteca, cinema, teatro, etc. Se há filhos adolescentes, mostre os locais onde os jovens costumam se encontrar. Isso favorecerá a melhor aceitação do novo local e dará mais segurança a eles.

4- Há pais que, por qualquer motivo, “transferem o filho de escola”. E muitas vezes fazem e só comunicam depois da atitude tomada. O filho e suas relações não importam embora usem isso como justificativa. Mas quem perde, é sempre o filho. Perde matéria, explicações e atividades pois o andamento dos conteúdos dependem dos alunos de cada turma, do professor e da escola que prioriza isto ou aquilo. Perde na relação afetiva com os amigos, porque está sempre se adaptando. E, geralmente, por temer fazer amizades e perdê-las, preferem o isolamento, ficam mais sujeitos a depressão, a terem dificuldades de relacionamento entre outras coisas negativas.


5- Casos como “separação dos pais, morte de familiares, exposição da criança a assaltos, sequestros e guerras” são situações perturbadoras e o melhor a fazer é procurar de um profissional adequado: o psicólogo.

Fonte de Pesquisa:

OAKLANDER Violet. Descobrindo Crianças – abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. Ed. Summus, SP, 1980 

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