quarta-feira, 8 de junho de 2011

O LIVRO DIDÁTICO

Voltando ás reminiscências, lembrei do início das aulas, nos meus idos anos da infância, quando frequentava o que hoje chamamos de Ensino Fundamental.Lembrei especialmente dos meus livros de leitura e exercícios, que cheiravam a novo quando da compra do material escolar.

Eram livros pequenos, de capa mole, com uma figura colorida e sugestiva na capa. Era a única figura colorida do livro todo. As figuras que ilustravam alguns textos eram pequenas e em preto e branco, com achuras para dar a sensação de sombreamento. No entanto, as poucas figuras contidas no livro, me faziam viajar no tempo e no espaço sem sair do lugar.Encapado com papel na cor determinada pela professora, encobria a única figura colorida do livro. Mas, não fazia diferença, nem era tão importante esse fato porque, pelo menos para mim, o "bom do livro" não estava na capa, mas internamente, pois trazia histórias, contos, lendas, poesias que mexiam com a minha imaginação e minhas fantasias, Havia ainda exercìcios de gramática, de ortografia, vocabulário e sugestões para produção de textos.
Este foi um dos meus livros no ensino básico.

Anos depois, quando comecei a lecionar, os livros já estavam bem diferentes. Eram maiores, com ilustrações grandes e coloridas em cada texto, mas ainda mantinham a mesma estrutura. As novidades da modernidade haviam chegado trazendo inovações. Os exercícios transformaram-se em jogos de cruzadinhas, de chriptogramas, de ligar e relacionar, de ordenar sequências e outros, todos inspirados nas propostas de Jean Piaget.

Tanto os primeiros quanto os segundos permitiam o trabalho com calma. Levava uma ou duas semanas para que mudar de texto. Cada item era explorado para que as crianças pudessem assimilar seus conteúdos, fazer os exercícios, aprender o vocabulário, utilizar em outras frases e aprender a escrever essas palavras e outras segundo as regras ortográficas. Mas, foram criticados e chamados de "conteudistas" e seus exercícios,  de "mesmice".


Os livros atuais são bem diferentes. Continuam grandes, grossos, encadernados com espirais, em papel de boa qualidade, bonitos, ultracoloridos, repletos de figuras, fotos e obras artísticamente elaboradas. Livros que são acompanhados de um CD com jogos e exercícios e da senha de um portal na Internet. Chique, não é mesmo?
Os textos são bem longos, com letras maiores que os anteriores e que ocupam várias páginas, exercícios com respostas pessoais que nem sempre a criança sabe responder sozinha (precisam entrevistar os pais) e que acabam levando a tarefa incompleta porque os pais estão cansados ou chegaram tarde do serviço ou da faculdade. A gramática está embutida e camuflada nos exercícios ("falar de regras gramáticais?" Só no Fundamental II). Tudo é feito ás pressas, com tempo marcado, pois logo, outro livro será entregue. E, em nome dessa pressa, perseguindo o final do livro à cada bimestre, as crianças vão aprendendo que o livro didático é descartável como qualquer outra coisa. que se usa e joga-se fora.

O livro de hoje tem espaço para que a criança responda os exercícios no próprio livro, sem a necessidade de copiá-los no caderno. Estes livros são chamados "consumíveis", o que significa que nenhuma outra criança, da família ou não, pode utilizá-lo novamente, como acontecia no passado.

Já se perguntaram porque nossos estudantes do Fundamental ao Ensino Médio apresentam tanto desinteresse pelos estudos? Ora, se ensinamos a eles que o livro que ele aprende sobre a vida e sobre o mundo é algo descartável, ensinamos que o conhecimento também é, pois esses conhecimentos estão contidos e são o conteúdo dos livros.

E a quem isto tudo interessa? Ao aluno? Á sociedade? Ao país?

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