quarta-feira, 26 de outubro de 2016

AVALIAÇÃO DO CONTEÚDO ESCOLAR DE ALUNOS COM PARALISIA CEREBRAL (parte 2)

Ler e escrever é uma tarefa complicada para os alunos com Paralisia Cerebral Moderada, porque eles apresentam graves problemas motores e, a maioria deles apresenta baixa visão. E para iniciar um trabalho com esses alunos é necessário conhecer o que eles sabem e de que maneira conseguem a escrita.

Na avaliação pedagógica ou dos conteúdos escolares que conhecem, a primeira coisa que peço é que retirem da caixa do Alfabeto Móvel somente as letras que conhecem bem.


Para quem não possui um alfabeto móvel fica a dica: vocês podem cortar cartões e escrever as letras (bem grandes e escuras) ou colá-las de jornal ou revista. O garoto com quem trabalho retirou apenas estas letras. 


O que me leva a acreditar que não sabe todas.

Aproveito a ocasião para saber se eles conhecem mesmo ou se tiraram aleatoriamente. Se ele disser o nome correto das letras retiradas me dá a certeza de que ele sabe. O contrário também é verdadeiro.

Pergunto também se eles sabem escrever o nome deles. O garoto escreveu seu nome assim:

Como se pode verificar, é quase irreconhecível a forma como ele escreveu o próprio nome. Essa forma mostra a gravidade do problema motor, me mostra se é destro ou canhoto, a mão ativa e a inativa, a forma como segura o lápis, giz de cera ou canetinha. Verifico se ele usa a mão oposta para segurar a folha ou o caderno ou se eu tenho que suprir a falta de uso da mão inativa. Observo também se ele abaixa muito a cabeça ou se leva o caderno até o rosto para poder enxergar melhor. E isto nos dá a noção da baixa visão.

A partir de então, começo o trabalho de alfabetização apresentando as vogais maiúsculas e minúsculas para que ele vá se habituando com a forma e ir fixando essas letras.
 

 


Com o alfabeto móvel vamos montando pares com as vogais. Primeiro me diz o nome da vogal mostrada ( A) e da outra (I) e depois “deixando bem pertinho uma da outra, fica  “AI”, o que dizemos quando machucamos o dedo (e mostro a figura).

E assim, brincando de juntar letrinhas, vou apresentando alguns monissílabos mais comuns e ligando sempre com as vivências da criança ou jovem. E faço isso da seguinte forma: o que você diz quando fala de você mesmo? E + U fica EU. E quando você vê um amigo, o que você diz? O + I fica OI. E quando você se machuca, o que você diz? A + I fica AI. E assim por diante. 


Depois mostro como ficam essas palavrinhas com as letras minúsculas. Aproveito também para ilustrar e tornar mais concreto o aprendizado, a colagem dessas palavrinhas. Espalho sobre a mesa ou caderno os monossílabos e repito as perguntas mostrando as figuras. Ou então leio os monossílabos e ele mostra perto de qual figura ele deve colar as palavrinhas.

FIXANDO AS VOGAIS

Com o desenho de um vidro, lata ou cofre fazemos uma colagem para “guardar” as vogais.  E a criança cola como ela quiser. O vidro simboliza a mente ou a intelectualidade onde tudo deve ser "guardado", ou seja, memorizado.



AVALIANDO OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS

Peço também que me mostre que números conhecem. E para isso, espalho sobre a cartões com números de 1 a 10 e peço que eles retirem os que conhecem. O garoto tirou todos os cartões. Então, coloco todos de volta na mesa e peço que aponte os eu pedir. Por exemplo: 3, 9, 5, 1, 8, 2, 6 etc. Assim eu sei se ele realmente sabe ou não. E se errarem ou confundirem também fico sabendo por onde começo a trabalhar com eles.

Depois mostro um desenho com uma parte numerada de 1 a 10. E peço para unir os pontos, com uma condição: falar o nome do número que estiver perto de cada bolinha.

Depois disso, e com a certeza que ele sabe e reconhece cada nºde 1 a 10, vamos verificar a contagem. Estas vão com maiores quantidades porque tinha certeza que ele sabia. Caso não saibam, comece com quantidades menores. O garoto contou sozinho e não errou na contagem. Ele também apontou o número correto. depois foi só colar.

 

Como ainda sobra tempo, aproveito para observar outras coisas que ele sabe e pode fazer, como por exemplo, montar um quebra cabeça com apoio visual.

 


O objetivo deste jogo era saber se consegue perceber as posições e os lugares das peças. Percebo que a criança em questão consegue pegar materiais finos como o papel usando os dedos, polegar e indicador, em pinça. No entanto, encontra dificuldade em retirar as peças da mesa e precisa de ajuda.

Posso também pedir que monte uma torre de encaixes para observar como ele a faz (aleatoriamente ou com uma sequência de cor ou de forma). Como esta, por exemplo:
 


O objetivo desta atividade foi observar a mobilidade do braço ativo. O garoto em questão consegue erguer o braço direito até uma altura de uns 30 cm com facilidade. A torre foi erguida sem qualquer critério de forma ou de cor, portanto, colocando as peças aleatoriamente.

Eu quis saber se ele consegue ligar um elemento com outro a uma distância regular.
O exercício mostra também que ele é capaz de observar alguns detalhes, fato que amplia as chances de trabalho com ele.

Diante de algumas possibilidades de trabalho mostradas neste momento de avaliação, já posso dar início à alfabetização da Lingua Portuguesa e da matemática. Dá para trabalhar a leitura e o conhecimento das letras e suas junções enquanto nos preparamos para a forma  escrita, que será da forma como ele puder  fazer. Neste primeiro momento, será realizada por meio da colagem das palavras e ligamentos quando necessário. 

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