segunda-feira, 8 de julho de 2013

POR QUE OS DEFICIENTES INTELECTUAIS QUE ACATAM ORDENS DOS AMIGOS?

RESPONDENDO A UM LEITOR


Verificando os bastidores deste blog, encontrei uma pesquisa bastante interessante: "COMO ENSINAR A UM DEFICIENTE INTELECTUAL QUE ELE NÃO PODE FAZER TUDO O QUE LHE MANDAM"?

Vivenciei esse problema durante quatro dos seis anos que cuidei de uma adolescente com atrofia do cerebelo e dois dos três anos que cuidei de um garoto com paralisia cerebral. Portanto, sei muito bem como é este problema.

As reclamações de que aprontavam eram muitas. Para falar a verdade, quase todos os dias. Muitas vezes, fui buscá-los na diretoria do Colégio onde trabalhava. Além disso, os pais eram chamados e depois da conversa com o Diretor ou Coordenadora, onde ouviam a série de reclamações, corriam desesperados para minha sala querendo saber o que fariam com o filho ou filha.

Na verdade, essas ordens são dadas por colegas. E fazem isso por que querem se divertir às custas dos deficientes intelectuais, ao mesmo tempo que revelam uma atitude preconceituosa e desrespeitosa pelos sentimentos dos colegas mais inocentes. Isso quando não praticam o bullyng. E a razão é simples:

Ao chegarem ao 5º ano, todas as crianças começam a se "enturmar". E passam a formar grupinhos. Primeiro, do mesmo sexo e, um pouco mais tarde, esses grupos passam a ser mistos. Isto porque é uma necessidade do desenvolvimento humano. Com os deficientes intelectuais não é diferente. Eles também necessitam de amigos da mesma idade para conversar, trabalhar junto, obter informações etc.

Porém, os "amigos" não estão muito afim deles: por julgá-los esquisitos ou feios, por vergonha de tê-los por perto, por  medo do que os "paqueras" podem achar ou por preconceito mesmo. Por isso, ou por tudo isso junto, os isolam.

Mas, os deficientes querem (como qualquer outra pessoa) ser aceitos numa roda ou grupo de amigos. Porém, quando nessa roda ou grupo existem alguns "espertinhos", esses propõem uma condição: "Só se você fizer X coisa". E os deficientes aceitam e fazem o que mandam porque não conseguem prever as consequências desse ato.


Antes de se ensinar o deficiente intelectual a não fazer determinadas coisas, é preciso conscientizar o "grupo " ou classe onde esse deficiente está incluído. Falar abertamente a problemática dele para que saibam com quem estão lidando, das dificuldades que ele (deficiente) vai encontrar e, principalmente, como devem lidar com ele. Dizer isso, não é segregar, mas ajudar a compreender. E sempre fazendo com que se coloquem no lugar do deficiente.

O projeto de inclusão é lindo. Mas, infelizmente nossas escolas ainda não estão adaptadas para isso. Acreditam que basta colocar o deficiente numa classe, que a inclusão está feita. Esse é apenas o primeiro passo. O segundo, o de inseri-lo nesse grupo, é bem mais difícil e trabalhoso. 

Inserir é fazer o deficiente intelectual se sentir parte da classe ou do grupo como outro aluno qualquer, e fazer com que a turma sinta que ele é membro desse grupo ou classe. Inserir é respeitar a sua condição com programação, conteúdos, exercícios e materiais que sejam capazes de fazê-los evoluir,  apesar de suas dificuldades. 

Inserir é compreender e fazer com que os colegas de turma compreendam que o cérebro dos deficientes intelectuais é mais lento e, portanto, requer mais repetições, trabalhos diferenciados e concretos, provas específicas que avaliem suas conquistas dentro do que foi proposto e não do que foi trabalhado com a turma. E esta é uma atividade que engloba a todos: direção, coordenação, professores, auxiliares escolares (inspetores, faxineiros, porteiros etc) e dos alunos da escola como um todo. Isto servirá como exemplo de respeito aos demais alunos.


Muitos pais pedem aos filhos que se afastem dos deficientes intelectuais por medo que contraiam a "doença". Isto é desconhecimento. Deficiência intelectual não "pega" porque não é transmitida por contato, nem por um vírus que se espalha pelo ar. E cabe à Escola promover palestras, conversas e reuniões sobre o assunto  para pais, professores e alunos para que esta atitude (preconceituosa ou não) melhore e beneficie a comunidade em seu entorno. 

Só então podemos pensar em ensinar os deficientes a não fazer o que os amigos mandam.  E será que vai ser preciso?

Agora, se nada disso for feito, não culpe ou puna o deficiente. Ele é o menos culpado nessa história. Converse com ele, diga que não pode (repita um milhão de vezes se for necessário). Um dia, ele entenderá.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

INTUINDO O CONCEITO DE METADE

O conceito de metade é difícil para qualquer criança. Mais complicado ainda, para os deficientes intelectuais. Metade de algo, embora possa ser visto no concreto, requer mecanismos mentais de compreensão e entendimento de uma abstração que envolve outros conceitos.

O primeiro deles é o "conceito de semelhança". Nas metades, uma parte tem que ser semelhante à outra. E a criança deficiente intelectual tem, em primeiro lugar, que vivenciar essa semelhança. De que forma? 

BRINCANDO DE CONSTRUIR 

Por isso, geralmente, começo brincando. E brincando de construir casinhas, com lego ou um brinquedo infantil chamado "Engenheiro". E elas ficam fascinadas! 

Espalho as peças sobre a mesa e inicio uma construção e enquanto isso, ela observa. Paro na metade e peço que ela faça a outra parte igualzinha a que eu fiz.  Ao copiar o que fiz, elas percebem os detalhes e intuem as semelhanças.Trabalho assim várias vezes. 

 

JOGANDO

Preparo alguns desenhos bem coloridos e os corto na metade. Uma das metades colo em uma folha ou no caderno. A outra metade misturo bem. O jogo consiste em encontrar a outra metade e completar a figura com uma colagem. Trabalho assim outras tantas vezes.


 

Transformar um conteúdo em um jogo é divertido para a criança e faz com que ela aprenda mais rápido. E isto  vale tanto para as crianças deficientes quanto para as que não possuem deficiência.

Paro somente quando ao ser perguntar: "Quantas metades tem uma figura?" e a criança responder que são duas. Esse é o sinal para avançar o conteúdo: metade de quantidades. Mas, isto fica para uma próxima postagem.

                                                                                 Até lá!   

terça-feira, 25 de junho de 2013

QUANDO A CRIANÇA ESCREVE COM AS LETRAS SEPARADAS

TRABALHANDO COM DEFICIENTES

Aprender a escrever não é fácil. E ainda mais para quem tem deficiência intelectual. Muita coisa precisa ser entendida e memorizada para que se escreva bem.  

Como sabem, todo deficiente intelectual tem, geralmente, problemas no entendimento da sequencia das letras usadas na palavra. E para ensinar a sequência de letras muitos exercícios como este são realizados até que ela seja memorizada.


Por isso, e por ser mais fácil a escrita com a letra de imprensa para elas, as crianças podem entender que as letras de uma palavra ficam separadas umas das outras.  Como então, resolver este problema?

Fácil! Usando um brinquedo comum entre as crianças e que os deficientes intelectuais também gostam: o LEGO. Monte com esse brinquedo uma locomotiva e alguns vagões, formando um "trenzinho". Mas, não os junte ainda. 

 Deixe a criança experimentar. Se a criança não se manifestar, pergunte a ela porque os vagões não acompanham a locomotiva que tem por função puxar os vagões? Espere a resposta da criança. 

Se ela não souber ou responder de uma forma não correta, mostre que é preciso que os vagões estejam unidos (ligados) um no outro e também com a máquina (locomotiva). Una os vagões uns nos outros e, por fim, na locomotiva. Movimente-o por alguns minutos. Depois, deixe que a criança experimente novamente. 

Desmonte tudo e deixe que ela refaça o trem e brinque com ele. Nessa brincadeira, muitas vezes, os vagões se desengatam e ficam parados. É neste momento que, ao refazer o engate para que o trem se movimente, é que ela percebe a necessidade desse ligamento. 


 

É, então, chegado o  momento de dizer a  ela que com as palavras  acontece o mesmo. "Somente as letras unidas umas às outras formam uma palavra". Ao escrever, se a criança separar novamente, basta lembrar do trem. Treine a escrita de várias palavras por alguns dias. Em pouco tempo, com certeza, estarão escrevendo com todas as letras unidas.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ATIVIDADES COTIDIANAS

EM BUSCA DA AUTONOMIA (2)


O treino das AVDs (atividades da vida diária) é importante para os deficientes intelectuais porque dão a eles maior autonomia. Aprender a cuidar de si mesmos também dá uma boa ajuda aos pais.

Uma das principais AVDs é o abotoar a própria roupa. Muitos dependem dos genitores para realizar esta tarefa que envolve coordenação viso-motora, motora fina e habilidade.

Para treinar o abotoamento, Maria Montessori instituiu os quadros de laçagens. Um para cada tipo: abotoar,  fechos de pressão,  fechar com colchetes, de ziper, de afivelar e o de laços. Mas, recentemente, surgiram uns cubos em que estas etapas podem ser encontradas e praticadas pela criança. Em forma de brincadeira ou de desafio, a criança vai treinando. Primeiro, um de cada vez. 

Neste caso, a criança treina o "abotoar".

 

 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

CONTANDO HISTÓRIAS ORAIS

A maioria dos deficientes intelectuais possuem muita dificuldade em inventar e/ou contar histórias. Isto porque não foram estimuladas desde pequenas. 

Não é culpa dos pais. Eles tem tanto o que fazer para atender as necessidades da criança (levar aos terapeutas, cuidar das necessidades pessoais da criança, alimentar, vestir, banhar) , as suas próprias, as da casa e as do  trabalho fora de casa que, quando sobra um tempinho, o que querem mesmo é descansar. 

Por isso,  quando chegam a terapia psicopedagógica precisam ser estimuladas. Começo pela formação de frases, com figuras isoladas, para que a criança comece a desenvolver pensamentos sobre algo, além de fazer com que utilize as sílabas aprendidas e outras para ir intuindo, conhecendo a sequência das letras na palavra e  a grafia, do jeito que expliquei na postagem anterior sobre este assunto.

Enquanto isso, vou trabalhando oralmente as figuras dos próprios exercícios.
 
exercício  de leitura e rastreamento

 
figura de apresentação de uma nova letra ou de uma outra figura
 trabalhada em outra disciplina (no caso, em ciências)


Com essas figuras sempre pergunto: "O que ela vê na figura?" (para ampliar o vocabulário, verificar se há algo que ela não conheça e explicar ou nomear). Depois de trabalhar bastante, acrescento uma nova pergunta: "O que o personagem está fazendo?  Trabalho mais algum tempo as duas perguntas e proponho outras, uma de cada vez e sem esquecer as demais, como por exemplo: "Por que ele está fazendo isso?", "o que aconteceu durante a ... (situação da figura ou da ideia apresentada pela criança), "e como termina a história"? E assim, ela vai respondendo e criando sua história oral. Uma história pequena, é verdade, mas sempre uma história.

Mais tarde, apresento uma sequência de figuras que contam uma história. Este é apenas um exemplo:
  
Apresento fora de ordem e com o avesso para cima. A criança vira a figura, coloca em ordem e conta oralmente o que acontece em cada uma delas. Geralmente, elas contam apenas o que estão vendo.

Trabalho várias histórias deste jeito. Neste caso, não faço pergunta alguma. Apenas ouço. Quando a criança está bem firme, peço que ela conte para o pai ou a mãe (ou ambos) que a está acompanhando. E as crianças se sentem muito importante e os pais constatam seus progressos. 

Evidentemente, em algumas ocasiões, posso pedir que escreva uma das frases ditas. Neste caso, ela escolhe o quadro do qual ela escreverá a frase. E assim, vou trabalhando até que possa passar para outra etapa.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

DIFICULDADES DE PERCEPÇÃO AUDITIVA

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM


As percepções auditivas são tão importantes quantos as percepções visuais para quem estuda. Ouvir a explicação dos professores é essencial para a compreensão do conteúdo ensinado. Mas, não basta ser capaz de ouvir. É preciso que se tenha qualidade daquilo que se ouve. E ter qualidade significa poder ouvir, reconhecer e identificar todos os sons de nossa língua.



A Língua Portuguesa possui muitos sons semelhantes. E muitas crianças e jovens vão mal nessa disciplina porque não conseguem distinguir o som do “p e b”, ”t e d”, “f e v”, “j e ch”, “c e g seguidos pelas vogais a, o, u”, “que (i) e gue (i)” tanto na fala quanto na escrita. Assim, falam ou escrevem de maneira ilógica, como por exemplo: “A faca esdá no basdo” quando queriam dizer que “a vaca está no pasto”. Ou, “A chanela estafa aperta” quando a intenção era “a janela estava aberta”. Podem ainda fazer trocas inusitadas, como dizer “bolito” no lugar de “bonito”.

Outro exemplo:

A falta de qualidade no falar ou no registrar por escrito tem um nome: “Processamento das Informações Auditivas”, um trabalho cerebral realizado pelo lobo temporal. A dificuldade de processamento aparece quando, durante esse trabalho cerebral, alguns sons chegam de modo confuso e o cérebro não consegue identificar, enviando uma resposta errada.


Este problema pode ser percebido desde a infância. Até os 4 anos, as trocas de letras no falar são normais. Porém, se continuam após essa idade é melhor procurar um fonoaudiólogo. Com a entrada na escola, o acompanhamento com um psicopedagogo é essencial para o ensino de técnicas para que ele descubra qual letra deve utilizar.

Outro problema menos comum, mas que traz um incômodo bastante grande para quem o possui, é o “Transtorno Sensorial Auditivo”. 



Trata-se de uma hipersensibilidade a ruídos fortes e agudos como o barulho de gritos no pátio da escola, buzinas de carros, sirenes de ambulância, liquidificador, chiado das panelas de pressão etc. Esses ruídos produzem uma irritação nos sujeitos que pode fazê-los chorar ou demonstrar medo e aversão. Muitos pais não ligam para estes sintomas acreditando ser manha da criança. Mas, não é. E precisa de tratamento. 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

ENSINANDO A FORMAR FRASES

Uma das tarefas mais complicadas para os deficientes é a formação de frases. Difícil porque eles não compreendem o significado dos termos "formar" e "frase". Por mais que se explique são termos abstratos demais para seu entendimento.

Como ensinar um deficiente a formar uma frase?


Para que isto aconteça é preciso que se conscientizem de que podem escrever tudo o que pensam. E eles pensam, sim. E também conhecem uma porção de coisas que acreditamos que desconheçam. Isto porque temos ideias ultrapassadas, preconceituosas e crenças em  mitos com relação ao pensamento dos deficientes intelectuais. 

Assim, em vez de dizer a eles "forme uma frase com a palavra X"  diga "O que você pensa sobre X". A criança com deficiência intelectual deverá dizer a frase oralmente para que possamos auxiliar na escrita. 

A nota é boa.
O nenê é bom.
A Naná é feliz.
Eu gosto da nuvem.

Como toda criança no inicio da alfabetização, as primeiras frases são do tipo : "A boneca é bonita", ou "A maçã é gostosa". Estas frases devem se aceitas sim, mas só no começo da aprendizagem. Isto porque toda criança reafirma algo que experimentou e foi aceito como correto. 

Porém, se ela continuar formando este tipo de frase é preciso mostrar que existem outras formas, porque a escrita exige mais que uma forma padrão. Exige variedade  e, portanto, mais criatividade. E dentro de suas limitações, elas podem aprender a serem mais criativas, sim. 

Para isso, reformule o pedido de tempos em tempos. como "O que você acha da (figura, bicho ou palavra) X.""Como a (o) menina (o) está vestida (o)", "O que aconteceu com o(a) menino(a)"? ou "Onde a criança (ou o bicho) vai"?, ou ainda, "Como o menino está se sentindo diante de uma determinada situação"?  E, com os progressos que forem surgindo, de uma frase para outra.

A pipoca é gostosa.
A bola é da menina.
No bule tem café.
A caneta escreve.

Algumas vezes, incoerências podem aparecer como na frase: "O navio entrou no hotel". Claro que está frase tem algo incoerente. Neste caso, pergunte se ela sabe o que é hotel, se já viu um navio e, se não souber, explique. Pode ser falta de conhecimento anterior. Pergunte, ainda, se ela acha que está correta a forma como pensou. E permita que ela possa corrigir sua frase e dê tempo para que o faça. Caso não consiga, ajude-a sugerindo algumas formas mais correta e deixe que ela faça a escolha. Por fim, auxilie o registro deste novo pensamento.

A ave voa no céu.
Maria pintou o desenho com o pincel.

A criança que pensou estas frases tem  diagnóstico de limítrofe.  São frases simples, dentro do  que está aprendendo e  de acordo com sua capacidade.   Pouco a pouco, noto seus progressos.  E, se ela consegue, outros também podem. Tudo depende do conhecimento que se tem da criança e da forma como se propõe a atividade.