A alfabetização tem início nas primeiras séries (ou anos) do Ensino Fundamental e se prolonga até o final do curso. À medida que se aprende as letras e suas combinações, as possibilidades de se formar palavras e frases vão se multiplicando. Por isso, que se diz que a alfabetização é a construtora da gramática e de suas variações.
Devemos ter consciência de que a alfabetização não é algo inato na criança, mas um produto da cultura. E como tal, precisa ser aprendido de forma sistemática, ou seja, com método.
Repetir as letras do alfabeto, mesmo que na ordem correta, não garante que o sujeito esteja alfabetizado. Para ser alfabetizado é preciso que adquira as capacidades de interpretar, compreender, criticar e resignificar o que foi lido. São essas capacidades que levam os sujeitos à construírem seus conhecimentos por meio de trocas simbólicas com outros sujeitos. A isso chamamos de “ler”.
Adquirir a leitura é uma etapa importante da alfabetização. No início, a leitura é titubeante, imprecisa, soletrada. Isto é natural pois a criança está aprendendo a ler. E é aqui, que muitos problemas de aprendizagem começam.
Uma das causas é a ansiedade dos pais e professores porque querem ver os resultados cedo demais. Os primeiros, para mostrar aos amigos e parentes como o(a) filho(a) é inteligente e aprende rápido. Os segundos, por conta dos prazos de provas, de Conselhos de Classe, de reuniões de pais, das provas governamentais etc.
Diante dessa ansiedade, pais e professores esquecem que a criança, naquele momento, está vivenciando vários processos ao mesmo tempo: aprender as letras, ler e escrever. Esquecem que o desempenho dela não depende apenas de sua boa vontade, porém, de estados maturativos de certas áreas cerebrais, da boa visão e da boa audição, das condições educacionais recebidas na família e das oportunidades e dos estímulos que lhe foram oferecidos. É preciso dar tempo ao tempo e saber esperar.
Não adianta ficar de olho comprido nos resultados dos filhos dos vizinhos, dos amigos ou de parentes. Cada ser humano é único, tem seu tempo próprio, tem seu ritmo e velocidade para fazer as coisas. O cérebro não é uma máquina que se aperta um botão e ela começa a funcionar.
Saibam que:
- Pais que superprotegem os filhos, que fazem tudo por eles, para eles e no lugar deles, que cercam as crianças de mimos, fazem com que as elas demorem mais para aprender a ler. Isto porque a criança se acostuma com as facilidades e resiste a tudo que julga ser um esforço, incluindo o trabalho mental. Tudo é difícil e complicado para elas fazerem.
- Famílias que não possuem regras e horários para as coisas ou tem, mas não são muito claros, também fazem com que as crianças demorem mais para “juntar as letras” durante a leitura, porque custam a aceitar as regras impostas pela própria leitura.
A segunda grande causa são as “cobranças”. Algumas crianças demoram um pouco a perceber que já sabem e podem ler. Começam, então as comparações com o irmão, o primo, o filho do vizinho etc, geralmente seguidas por alguns rótulos: preguiçoso, relaxado, desatento, entre outros mais pejorativos. Comparações são cobranças, sim.
É preciso que se entenda que a criança está passando por uma fase emocional delicada. Tudo é novo para ela. E ao ouvir a mãe, o pai ou a professora compará-la com outra pessoa e ouvindo as qualidades que lhes são atribuídas, ela se ressente, se fecha, cria bloqueios. Sua auto-estima fica baixa, entristece, perde a auto-confiança e pode decidir que jamais aprenderá.
Saibam que a energia emocional gasta para aprender é a mesma utilizada para o “não-aprender”. Saibam também, que a linha que separa o desejo de aprender e o desejo de não-aprender é tênue, fina, frágil. Saibam também que, quando a criança decide não-aprender, o retorno é muito mais complicado, mais difícil e mais desgastante.
Voltaremos ao assunto nas próximas postagens.
Ter consciência das cobranças que são feitas realmente detectamos inúmeros problemas nas crianças que não aprendem ou seja ainda não chegou seu tempo de assimilação com as novas ideias.
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